Aula Final do Seminário: “O Caso Sandor Ferenczi” – 2015

Data: 14/novembro – das 10 as 12h

Local: Tykhe Associação de Psicanálise de  Campinas

Saiba mais: http://www.tykhepsicanalise.com/#!seminarios/c1pbz

Sandor Ferenczi no divã de Sigmund Freud

A solicitação, explícita e intencional, de análise com Freud, formulada pelo médico hungaro Sandor Ferenczi na carta de 26/12/1912 é um marco no histórico da relação entre os dois amigos psicanalistas no período de 1908 a 1933. Entre Viena e Budapeste o serviço postal foi intenso. Ao longo das apresentações em forma de Seminário venho sustentanto uma hipótese interpretativa deste precioso material de pesquisas: Correspondencia Completa entre Freud & Ferenczi.

A demanda explicita de análise só foi possível quando a triangulação Freud-Jung-Ferenczi se rompeu. Há uma seqüência de cartas de Freud que antecedem a histórica carta de dezembro e são relevantes para acompanhar o desdobramento derradeiro: a ruptura com Carl Gustav Jung. e sua expulsão do movimento psicanalítico em 1914. Para concluir, publicamente, este percurso de trabalho com as cartas, vou resgatar os predicados atribuídos por Freud ao princípe herdeiro e, sobretudo, o modo como instigou o jovem Dr. Ferenczi ao ataque.

Exemplo:

Nas cartas deste período, Ferenczi relatou a dolorosa ladainha de sintomas conversivos implorando ao Professor tratamento para seu sofrimento. Freud, por sua vez, estava ocupado demais com sua situação em relação a Jung. Na carta de 28/07/912 deixou transparecer sua posição na transferencia com o amigo hungaro: “sigo com interesse todos os relatos sobre os seus acontecimentos mais intimos, mas continuo a pensaer que o único dever de amigo é deixá-lo em paz”. Na sequencia narrou amenidades de sua vida particular voltando ao tema principal: “no que diz respeito a Jung, agora está tudo totalmente claro”. Reproduziu a carta enviada por Jung e concluiu: “Jung está vivendo em neurose galopante. Seja como for que isso acabe, minha intenção de fundir judeus e goim a serviço da psicanálise parece-me, neste momento, fracassada (…) Envie lembranças a Frau G. de minha parte e não leve nada tão a sério. Só depois que que podemos saber o que foi a felicidade ou a infelicidade, o infortúnio”.

Em resposta, Ferenczi exultou: “Fico muito feliz que tenha aceito facilmente a defeccão de Jung. Isto prova que seu desesperaado esforço em criar um sucessor pessoal foi definitivamente deixado de lado e que o Sr. abandona a causa da psicanálise à sua propria sorte. Jung trata a psicanálise como uma disputa pessoal com o Sr. e não comoa algo científico e objetivo. Os demais suícos são submissos a ele e no fundo são todos anti-semitas”.

Na carta de 07/12/1912 Ferenczi inicia se desculpando pelo longo silencio epistolar em “consequencia da doença que me abate; eu não queria inquietá-lo com isso. Agora estou melhor e posso relatar-lhe em detalhes o histórico de sua evolução. Os sintomas corporais levaram a mim e ao médico especialista que me atendeu a suspeitar de Lues. A partir daí, mergulhei numa profunda depressão, algumas noites de insonia com taquicardia, emagrecimento e fraqueza muscular. O medo da sífilis se revelou, posteriormente, infundado; mas os sintomas persistiam”. Concluiu: “se houve um fator psíquico na patogenese de minha doença e se o seu objetivo foi reaproximar-me de Frau G., então a doença cumpriu seu dever. Os generosos atos de cuidado e atenção que ela me dedica tornaram-me mais receptivo ao amor maternal  (…) espero que pouco a pouco eu possa relatar mais da ciência e menos de doenças”.

A resposta de Freud veio certeira:”nunca acreditei, nem por nenhum instante, em sua sífilis. Há um traço hipocondríaco evidente na história de sua doença. Sou egoista o bastante para lhe desejar, justamente agora, uma pronta recuperação”. Em seguida, engatou novamente a querela com Jung: “ele é um doido, suas cartas oscilam entre a ternura e a arrogância presunçosa e todos os relatos (Jones, Brill) mostram que ele considera seus erros como grandes descobertas”.

Na sequencia, a carta revela surpreendente exercicio de autoanálise: “Estou novamente com aptidão para o trabalho e reiniciei a escrita do Totem e Tabu que estava boqueada. Resolvi analicamente a crise de vertigem em Munique reconhecendo um significado comum a todas as crises somáticas: as experiencias de morte que vivenciei precocemente”. Angustia atuante no contexto espécifico da vida de Freud: seus tres filhos estavam prestes a serem convocados para o campo de batalha da Primeira Guerra Mundial.

No estilo post scriptum, arrematou: “envie minhas devotas saudações à sua fiel enfermeira (Frau G.)”.