Banda de Möbius

A imagem em movimento escolhida para ilustrar o website é reprodução da gravura “Banda de Möbius 2” criada pelo artista holandes Maurits Cornelis Escher em 1963. Inspirado no objeto topologico inventado em 1858 pelo astrônomo e matemático alemão August Ferdinand Möbius, Escher reproduziu a banda (também chamada de fita ou laço) numa estrutura espacial de superfície infinita incluindo formigas para figurar a impossibilidade de representar o dentro e fora como espaços antagônicos.

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A banda é também o símbolo do infinito pois representa um caminho sem começo e sem fim onde se pode percorrer toda a superfície da fita que aparenta ter dois lados pelo efeito de torção quando na verdade tem um só.

O psicanalista Jacques Lacan, em seu trabalho de retorno à Freud desde a década de 1950, encontrou na banda de Möbius um importante recurso metafórico para interpretar a estrutura do aparelho psíquico, apresentada na obra fundadora da psicanálise A Interpretação dos Sonhos (1900), e por extensão, as implicações deste modelo topologico na clínica psicanalítica e na ética exigida na condução do tratamento do sfrimento psíquico.

A figuração do aparelho psiquico em sua dimensão topologica criou uma descontinuidade na tradição filosófica ocidental desde Platão até Hegel pois instaurou a possibilidade de apreender o psiquismo para além da clássica dicotomia entre corpo (soma) e alma (psykhé), mundo sensível e mundo inteligível, exterior e interior, fora e dentro.

De certo modo, Jacques Lacan reinventou a psicanálise cumprindo a exigência estalecida pelo filósofo Georges Politzer em 1928 ao publicar a Crítica dos Fundamentos da Psicologia: a psicologia e a psicanálise: o inconsciente é ético e não ôntico, uma psicologia concreta que aceita renunciar a crença metafísica na existência de uma vida interior, no mito da interioridade psíquica.

Por último, as formigas em movimento representam apropriadamente a concepção lacaniana do bicho falante como ser de desejo. Esta concepção remonta a posição filosófica de John Locke no século XVIII que interpreta o desejo como inquietude (uneasiness/inquiétude). Não é sem razão o ditado: “fulano está com formiga no corpo”. O desejo causa uma inquietação: não deixando ninguém à vontade.

Indicações:

LACAN, Jacques O Seminário – Livro 10 A Angustia, Rio de Janeiro:Zahar, 2010

POLITZER, Georges Crítica dos Fundamentos da Psicologia: a psicologia e a psicanálise, Piracicaba-SP: Editora Unimep, 1998

MONZANI, Luiz Roberto Desejo e Prazer na Idade Moderna, Campinas-SP:Editora da Unicamp, 1995

Video/aula com o psicanalista MD Magno sobre A Topologia da Banda de Möbius:

Psicanálise e Filosofia