Grupo de Estudos em Freud – 2º Semestre/2016

A SEXUALIDADE NA ETIOLOGIA DAS NEUROSES

Cronograma: 03, 17 e 31/agosto; 14 e 28/setembro;

05 e 19/outubro; 09 e 23/novembro

Quarta-Feira das 19h30 às 21h

Pagamento: R$ 60,00 a cada encontro

Local: Rua Saldanha Marinho, 792 – Piracicaba/SP

Inscrição para iniciantes:

Agendar entrevista através do email: mmariguela@gmail.com

 

Enunciado:

No percurso de trabalho do Grupo de Estudos em Freud selecionamos os textos desde 1886 para investigar a hipótese clínica fundadora do campo da psicanalise: a sexualidade é o fator etiológico determinante na constituição dos sintomas psiconeuróticos. O objetivo é percorrer a obra freudiana para analisar a hipótese e seus desdobramentos ao longo da elaboração teórica e clínica.

No semestre passado, partirmos das fantasias histéricas para as fantasias obsessivas. Percorremos o ensaio clínico-estético “Uma recordação de infância de Leonardo Da Vinci” e chegamos às “Contribuições à Psicologia do Amor” escritas entre 1910 e 1912.

Neste semestre, começaremos com primeiro relato histórico do movimento psicanalítico, redigido por Freud em pleno alvorecer da 1ª Guerra Mundial. “Contribuição à História do Movimento Psicanalítico”, publicada em 1914 no Anuário de Psicanálise, carrega em suas letras o tom belicoso da batalha entre o Dr. Freud e o Dr. Jung. Com este texto, Freud tornou pública sua penosa decisão: expulsar Carl Gustav Jung do movimento psicanalítico. A pulsão sexual infantil é o pomo da discórdia. Com veemência, Freud reivindica a autoria da hipótese da sexualidade Infantil como gênese de todo adoecimento neurótico, psicótico ou perverso.

Citando a legenda latina do brasão de Paris [Fluctuat nec mergitur: flutua, mas não afunda] o texto se abre retumbante: “a psicanálise é criação minha, por dez anos eu fui o único indivíduo que dela se ocupou, e foi sobre mim que recaiu, em forma de crítica. Penso ter o direito de sustentar que ainda hoje, quando há muito já não sou o único analista, ninguém pode mais do que eu saber o que é a psicanálise, como ela se distingue de outras maneiras de estudar o inconsciente”.

Continua em forma de repúdio: “Repudio o que me parece uma ousada usurpação e também informo indiretamente os nossos leitores sobre os acontecimentos que levarão às mudanças na direção e apresentação deste Anuário”.

A psicanálise é uma criação de Freud e, como tal, instaurou uma descontinuidade no campo das ciências médicas. Todo o embate posterior sobre a questão da análise leiga, isto é, de praticantes da psicanálise sem formação médica, e o nó da autorização para o exercício da psicanálise, decorrem deste documento histórico.

A proposta de trabalho se inicia com alguns delineamentos da genealogia da “Contribuição à História do Movimento Psicanalítico” no conjunto da Correspondência Freud & Ferenczi. O médico húngaro Sándor Ferenczi é o personagem principal na célebre decisão de deserção de Jung nas trincheiras do movimento psicanalítico. De amigos confidentes à inimigos declarados. Freud o acusou de usurpador. Jung pretendeu excluir o infantilismo pulsional da teoria sexual de Freud e da prática psicanalítica.

O ato fundador de Freud em 1914 é uma declaração de guerra contra todos os que fizeram da psicanálise uma psicoterapia moralizante, travestida pelo discurso cristão e pelo discurso pragmático utilitarista das ciências. Freud não deixou dúvidas sobre qual o critério que define um diagnóstico do sofrimento psíquico: a sexualidade infantil é a gênese etiológica das neuroses e psicoses. Os traços mnêmicos das vivencias no tempo de criança contém a escrita da neurose histérica e neurose obsessiva nos tempos vindouros: adolescentes, jovens, adultos e idosos.

Freud demonstrou ser guiado pela célebre premissa enunciada nos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905): “os sintomas são a atividade sexual dos doentes”. Demos prova disso ao final do último encontro do grupo de estudos com “Contribuições à Psicologia do Amor 2: Sobre a mais comum depreciação na vida amorosa” (1912). O texto se inicia com uma constatação de fato: “Quando o psicanalista se pergunta por qual motivo ele é mais procurado, excluindo as muitas formas de angústia, tem de responder: por causa da impotência psíquica”. Os sintomas psiconeuróticos tornam as pessoas impotentes, incapaz de tomar decisões e assumir as responsabidades decorrentes. Por um lado, a impotência psíquica conduz a estados depressivos e depreciativos. Por outro, se faz ato numa conversão somática do órgão genital: disfunção erétil masculina e frigidez feminina.

Seguimos acompanhando os desdobramentos tanto históricos quanto conceituais da premissa fundadora da psicanálise: a sexualidade é o agente etiológico das psiconeuroses.

Bibliografia Básica:

FREUD, Sigmund

“Contribuição à História do Movimento Psicanalítico” (1914) In: Obras Completas. Volume 11. Tradução: Paulo César Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

“Formulações sobre os dois princípios do funcionamento psíquico” (1911);

“A dinâmica da transferência” (1912);

“Recomendações ao médico que prática a psicanálise” (1912);

“O início do tratamento” (1913);

“Recordar, repetir e elaborar” (1914);

“Tipos de adoecimento neurótico” (1912);

“O debate sobre a masturbação” (1912);

“Princípios básicos da psicanálise” (1913)

“A predisposição à neurose obsessiva” (1913);

In: Obras Completas. Volume 10. Tradução: Paulo César Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

“Os instintos e seus destinos” (1915)

“A repressão” (1915)

“Luto e Melancolia” (1915)

“Alguns tipos de caráter encontrados na prática psicanalítica” (1916)

In: Obras Completas. Volume 12. Tradução: Paulo César Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.