21/fevereiro. 07 e 21/março; 04 e 18/abril; 02 e 16/maio; 06 e 20/junho
Quarta-Feira das 19h30 às 21h30
Pagamento: R$ 70,00 a cada encontro
Local: Rua Saldanha Marinho, 792 – Piracicaba/SP
Inscrição para iniciantes: mmariguela@gmail.com
“Para Freud, o supereu é uma instância de sua 2ª tópica que se destaca do eu para julgá-lo e que mergulha suas raízes no isso [inconsciente]. Ele se forma a partir de falas ouvidas dos pais ou seus substitutos. A influência crítica dos pais é medida pela voz, diz Freud. Identificando a voz ao supereu, Lacan se insere na linha freudiana. Mas ele também a leva adiante. O supereu é um imperativo dissociado, destacado das leis simbólicas da linguagem. Ele é uma cisão nas relações do sujeito ao simbólico. Ele é o sabotador interno. É o Tu que toma posse da casa e ejeta o sujeito. É o caroço da palavra; uma voz obscena e feroz.”
Publicado em 1966, Écrits é um livro acontecimento. Coletânea histórica do percurso de Jacques Lacan em seu empreendimento de retorno à Freud. Em cada ensaio, a letra inscreve o trabalho em curso: Lacan, o escritor.
Há o ensino de Lacan nos Seminários, transmissão oral. Há o ensino de Lacan em outro modo de transmissão, a letra inscrita de próprio punho. No lançamento Écrits, numa conferência em Lyon, “Lugar, origem e fim do meu ensino”, Lacan assumiu publicamente que há ensino em seus escritos: “[o livro] trata simplesmente do lugar onde cheguei, o que me põe na postura de ensinar, uma vez que ensino há”.
No palco público do Seminário atuou por três décadas interrogando os praticantes da clínica psicanalítica e ensinando a ética da psicanálise; com mestria, encarnou a figura emblemática de Sócrates na Ágora.
Na reclusão de escritor ou no palco dos Seminários, forçou a língua mátria a dizer o indizível. Sua inovadora prática clínica revolucionou a história da psicanálise. Leitor surrealista da letra freudiana, atraiu multidões de diferentes matizes e lugares.
No Curso de Extensão que proponho, sustento uma hipótese de leitura para selecionar alguns escritos: cada texto/ensaio podem ser lidos como cartas exortativas, escrita com endereçamento e com uma função específica.
Do latim exorto, o verbo exortar é um chamado ao ânimo, estimulando, encorajando, incitando à ação. Como estilo epistolar, na antiguidade clássica, a exortação tinha o propósito de chamar ao ânimo, animar, estimular. Era um instrumento para encorajar os soldados em campo. A persuasão é a estratégia da escrita exortativa pois pretende convencer o leitor à ação.
Assim, divido a proposta de leitura em módulos para cada tema escolhido no conjunto dos Escritos. Neste 1º, A agressividade em psicanálise, escrito na forma de um “relatório teórico apresentado no XI Congresso dos Psicanalistas de Língua Francesa; reunido em Bruxelas em meados de maio de 1948”.
O relatório apresentado em 5 Teses sobre a “noção de agressividade na clínica e na terapêutica” explicitou o propósito de “provar perante os senhores se é possível formar [da agressividade] um conceito tal que possa aspirar um uso científico, isto é, apropriado a objetivar fatos de uma ordem comparável na realidade, ou mais categoricamente, a estabelecer uma dimensão da experiência cujos fatos objetivados possam ser considerados variáveis”.
Bibliografia Básica:
LACAN, Jacques. A agressividade em psicanálise. In: Escritos. Tradução: Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
___________. Meu Ensino. Tradução: André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
FOUCAULT, Michel. Genealogias do estatuto da parresia: as práticas do dizer-a-verdade sobre si mesmo. In: A Coragem da verdade. Curso no Collège de France (1983-1984). São Paulo: Martins Fontes, 2011.
MILNER, Jean-Claude. A obra clara: Lacan, a ciência e a filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.
PORGE, Erik. O gênio clínico de Lacan. In: Jacques Lacan, um psicanalista – percurso de um ensino. Brasília: Editora UNB, 2006.
ROUDINESCO, Elisabeth. Os Escritos: retrato de um editor. In: Jacques Lacan: Esboço de uma vida, história de um sistema de pensamento. São Paulo: Cia das Letras, 1994.
DUNKER, Cristian. Por que Lacan?In: Coleção Grandes Psicanalistas. São Paulo: Zagodoni, 2016
“Acabo de ler, encantado, o Narcisismo. Fazia tempo que não tinha um tal prazer numa leitura. Devo confessar-lhe que há anos não consigo ler nada além de seus escritos. O Sr. nos mimou muito, nos dando coisas bonitas e fortes demais para ler, depois delas, nada mais tem sabor”
(Carta de Sándor Ferenczi à Sigmund Freud, 04/julho/1914)
Enunciado:
Neste ano, lancei a proposta de leitura retroativa do ensaio “Luto e Melancolia”, escrito em 1915 e publicado 1917, para o ensaio “Introdução ao Narcisismo” (1914).
Dedicamos o 1º semestre ao estudo de “Luto e Melancolia”. Identificamos várias camadas que compõem o texto e o modo como remetem ao estatuto da melancolia ao longo da história da cultura ocidental, desde os gregos na antiguidade até a nosografia neuropsiquiátrica da época de Freud que localizava os sintomas melancólicos na categoria de psicose maníaco-depressiva (PMD).
Também destacamos o que Freud antecipa e seus desdobramentos na construção arquitetônica da 2ª tópica do funcionamento do Aparelho Psíquico. Em especial, a gênese do Super-eu e o problema econômico do masoquismo.
No artigo “Neurose e Psicose”, escrito 10 anos depois do “Luto e Melancolia”, Freud encontrou um lugar para instalar a melancolia na nosografia psicanalítica do sofrimento psíquico. Estabeleceu a etiologia comum à irrupção de uma psiconeurose ou psicose: “a frustração, a não realização de um daqueles desejos infantis nunca sujeitados, tão profundamente enraizados em nossa organização filogeneticamente determinada”.
A descrição de um agente psíquico responsável pela manutenção da frustração impunha uma nova cartografia do aparelho psíquico: “O comportamento do Super-eu deve ser levado em consideração, o que não se fez até agora, em todas as formas de doença psíquica. Podemos, no entanto, postular provisoriamente que tem de haver afecções baseadas num conflito entre Eu e Super-eu. A análise nos dá o direito de supor que a melancolia é um exemplo típico desse grupo, e reivindicamos para esses distúrbios o nome de ‘psiconeuroses narcísicas’”.
Nesse 2º semestre, este é o ponto de passagem para prosseguir o trabalho de leitura retroativa ao texto “Introdução ao Narcisismo”.
contexto histórico da escrita do ensaio sobre o Narcisismo.
a situação da clínica de Freud em 1914.
a nosografia do Transtorno de Personalidade Narcísica no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5.
narcisismo e megalomania: a mania na melancolia e na psicose.
Bibliografia Básica:
FREUD, Sigmund
“Introdução ao Narcisismo” (1914)
“Luto e Melancolia” (1915)
“Alguns tipos de caráter encontrados na prática psicanalítica” (1916)
In: Obras Completas. Volume 12. Tradução: Paulo César Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
“Sobre o mecanismo da paranoia” (3ª parte) do relato do caso Schreber de 1911 In: Obras Completas. Volume 10. Tradução: Paulo César Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
LAMBOTTE, Marie-Claude “Narcisismo”. In: Dicionário Enciclopédico de Psicanálise: o legado de Freud e Lacan, editado por Pierre Kaufmann. Jorge Zahar Editor, 1996.
OVIDIO, Metamorfoses, Livro 3, versos 345 a 520 (gênese do mito de Narciso na história da cultura ocidental).
No link abaixo poderão acessar a tradução realizada por Raimundo Nonato Barbosa de Carvalho, como tese de pós-doutorado defendida na Universidade de São Paulo, 2010