No fragmento atribuído a Heráclito encontra-se a mais bela definição de tempo: “O tempo é uma criança que brinca, movendo as pedras do jogo para lá e para cá; é governo de criança”. Instalada no instante presente, a criança não tem consciência do antes e do depois, do passado e do futuro. Seu tempo é o prazer obtido pelo ato de brincar. Considerando o princípio que rege a filosofia heraclitiana pode-se deduzir o valor simbólico da metáfora contida no fragmento. O tempo é um fluxo constante e ininterrupto, um vir-a-ser contínuo, o devir do ser: é puro acontecimento inscrevendo o movimento no qual todo o ser procura sustentar sua existência.
Estar no mundo é estar no tempo. O tempo é uma procissão de instantes entre o horizonte memorável do passado e as expectativas do futuro. Do passado só podemos relembrar para justificar o presente, dando-lhe sentido e significação. Do futuro, mantemos a ilusão de um controle, planejamento e previsibilidade. Quimera humana a sustentar nosso desamparo frente às contingências e circunstâncias que não dependem de nossa vontade. O futuro é um oceno de possibilidades governado pela deusa Fortuna à qual estamos submetidos. Podemos rememorar o passado e não podemos prever o futuro.