Na Antiguidade grega e romana havia o preceito ético do cultivo dos prazeres sensíveis ligados a um conjunto de técnicas que auxiliavam no exercício de formação do caráter e da virtude. Viver era concebido como uma arte, exigindo de cada indivíduo o esforço contínuo em transformar cada gesto do cotidiano em modo de expressão da beleza, bem estar e convivência pacífica consigo mesmo e com os outros. O cultivo da arte de viver recebeu o nome de aphrodisia, o uso dos prazeres.
Category Archives: Revistas
O luxo entre o vício e a virtude
O luxo é designado por seu caráter excessivo e está inserido entre as paixões passivas de controle administrativo pelos ideais estabelecidos pela razão e/ou pela fé. Luxuoso, luxuriante, luxúrias: paixões da alma emaranhada na posse de objetos e adornos que potencializam os prazeres dos sentidos, sobretudo, o prazer de olhar e ser olhado.
A Inquietude do Desejo
Em nosso Catálogo das Paixões, série de ensaios onde definimos o ser humano como um ser passional, os afetos e emoções são as paixões da alma. Em nossa lista, vamos inserir o desejo como o substrato das paixões. O que nos faz humanos é a singular capacidade de amar, odiar, desejar, vivenciar o prazer e o desprazer, construir laços de amizade, ter esperança, temor, coragem, alegria, tristeza e, acima de tudo, lutar para ser feliz, praticar a justiça e equidade nas relações com nossos semelhantes.
Na tradição filosófica ocidental, o desejo sempre esteve no centro do pensamento reflexivo, nos códigos morais e nas teorias políticas. Platão inaugurou um catálogo ao estabelecer a distinção entre realidade sensível e inteligível, instaurando um corte radical na cultura ocidental ao separar (substancialmente) o corpo e a alma.
Admiração: a paixão do olhar
O amor é a paixão predominante nos discursos sobre os afetos e está intrinsecamente vinculado ao ato de admiração envolvendo o prazer do olhar. Admiramos algo ou alguém pelo sentimento sublime de respeito e consideração causado em nós: só amamos o que formos capazes de admirar. A emoção que a admiração desperta leva ao apaixonamento.
Por reconhecer em alguém um valor que nos faz contemplar nossa própria imagem invertida, amamos. Tal como um espelho, o outro representa o que desejamos ser ou somos e por isso este outro se torna objeto de contemplação, admiração. Não sem motivo há o ditado popular: o que os olhos não vêem o coração não sente. O amor passa pelo olhar, fonte primária da admiração: “quando eu te vejo eu desejo o teu desejo”, canta Caetano Veloso.
Cultivo da amizade
Amizade é designada como um sentimento de grande afeição, apreço e reciprocidade. Sempre pareada com o amor, a amizade envolve relações entre os humanos como grupo social e foi objeto de inquietação ao longo da história. Ela tece laços entre membros de uma família, comunidade ou Estado. Quando relacionada aos graus de parentesco parece condicionada por consanguinidade e herança do nome. Neste caso, não dependem da escolha. Quando deliberada por exercício da liberdade individual, adquiri o estatuto de camaradagem e companheirismo.