A Sexualidade na Etiologia das Neuroses

GRUPO DE ESTUDOS EM FREUD

 

Cronograma: 20/fevereiro; 06e 20/março; 03/abril; 08 e 22/maio; 05 e 19/junho – Quartas das 19h30 as 21h – 15 vagas

Pagamento: R$ 300,00 por 8 encontros

Local: Rua Prudente de Moraes, 1413 – Bairro Alto – Piracicaba -SP

Inscrição: m.mariguela@gmail.com

1- Objetivo:

Inserido no projeto de ensino e transmissão da psicanálise, o Grupo de Estudos em Freud inicia em 2013 uma nova proposta de trabalho com os escritos de Freud direcionados a sustentar a hipótese fundadora do campo epistêmico e clínico da psicanálise: a sexualidade é o agente etiológico causal dos sintomas psiconeuróticos.

Desde a “Comunicação Preliminar” de 1893 até o “Esboço de Psicanálise” de 1938, Sigmund Freud manteve a sólida convicção de que os sintomas dos neuróticos são causados pelas fantasias e vivencias sexuais submetidas à repressão pelo processo civilizatório.

Nossa intenção é percorrer o conjunto da obra freudiana para cartografar esta hipótese que direcionou a construção da teoria psicanalítica e deste modo, instaurou um corte epistemológico na história da psicopatologia e nas diferentes estratégicas de tratamento do sofrimento psíquico. Com isso, pretendemos reinscrever os postulados fundamentais da prática clínica e dos principais conceitos que sustentam a direção do tratamento na atualidade.

2- Justificativa:

Na vigésima Conferência Introdutória sobre Psicanálise, intitulada “A vida sexual dos seres humanos” e publicada em 1917, Freud fez uma descrição da vida sexual dos seres falantes, definindo o adjetivo sexual como sendo tudo o que se relaciona com a distinção entre os dois sexos. Dessa premissa, extraiu uma conclusão: aquilo que é sexual é da ordem do impróprio. Assim, sexual é “algo que reúne uma referência ao contraste entre os sexos, à busca de prazer, à função reprodutora e às características de algo que é impróprio e deve ser mantido secreto”. O propósito deste trabalho de estudos é argumentar que a impossibilidade de representação psíquica da diferença anatômica entre os sexos é esse “algo impróprio” que define o sexual.

Com essa premissa, Freud instaurou uma ruptura no discurso neurológico sobre os fenômenos histéricos e obsessivos, assim como nas estratégias de diagnóstico da doença mental e nas formas de tratamento clínico. Ato contínuo criou um novo campo discursivo [a psicanálise] permitindo interrogar a experiência da loucura em novas bases conceituais. É, pois, como instaurador de discursividade, que o nome Freud inscreve-se numa função autor da psicanálise.Ele instaurou um discurso que confrontou o pensamento contemporâneo rompendo as fronteiras entre o normal e o patológico, estabelecida pelo discurso neurológico e pela prática psiquiátrica. Ao definir o sexual como da ordem do impróprio, Freud abriu uma nova possibilidade de interrogar a sexualidade para além do discurso biológico. De igual modo, constatou o esforço que é feito historicamente para manter esse impróprio recalcado pela moral.

Ainda na Conferência XX, fez referências à arte pictórica de Breughel e à obra literária A tentação de Santo Antônio, de Gustave Flaubert como metáfora para designar a perversão como o impróprio que define a vida sexual dos seres humanos: “Na sua multiplicidade e estranheza, [os perversos] somente podem ser comparados aos monstros grotescos, pintados por Breughel para a tentação de Santo Antonio, ou à longa procissão de deuses e crentes desaparecidos, que Flaubert faz desfilar ante os olhos do piedoso penitente”. Uma série foi construída para agrupar a classe dos pervertidos, pois, frente a “uma tal miscelânea requer algum tipo de ordenamento para que não venham confundir nossos sentidos”. Toda uma tipologia das perversões aparece no ordenamento apresentado por Freud. Em cada grupo um tipo específico que, no conjunto, representa um fenômeno que interroga as fronteiras entre o normal e o patológico. Através da escuta clínica dos pacientes neuróticos [histeria e obsessão], Freud constatou a existência de “grupos de indivíduos cuja vida sexual se desvia, da maneira mais surpreendente, do quadro habitual da média (…) e devemos nos lembrar de que cada um destes grupos podem ser encontrados sob duas formas: ao lado daqueles que procuram sua satisfação sexual na realidade, estão os que se contentam simplesmente com imaginar essa satisfação, que absolutamente não necessitam de um objeto real, mas podem substituí-lo por suas fantasias”.

Este argumento apresentado em 1917 remete à tese da sexualidade infantil, que emergiu em 1905 nos Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. No primeiro ensaio caracterizou as aberrações sexuais em duas classes: os desvios com respeito ao objeto sexual; e os desvios com respeito ao alvo sexual. Ao final, identificou a pulsão sexual nos neuróticos em sua experiência clínica de aproximadamente vinte e cinco anos e, a partir de sua definição de pulsão estabeleceu duas premissas fundamentais: “os sintomas são a atividade sexual dos doentes (…) os sintomas representam um substituto de aspirações que atraem sua força da fonte da pulsão sexual”.

Freud reconheceu que tal premissa atraiu boa parte da oposição contra sua tese da sexualidade infantil. Os adversários da psicanálise não admitiam [será que ainda admitem?] o pressuposto elementar que justificava sua tese: a pulsão sexual que atua nas psiconeuroses é a mesma que atua nas pessoas que se consideram normais. A psicanálise ensina que “os sintomas se formam, em parte, a expensas da sexualidade anormal” e que os mesmos “representam a expressão convertida de pulsões que seriam designadas de perversas (no sentido mais lato) se pudessem expressar-se diretamente, sem desvio pela consciência, em propósitos da fantasia e em ações”. Desse ensinamento extraiu a seguinte conclusão: a neurose é, por assim dizer, o negativo da perversão. “A pulsão sexual dos psiconeuróticos permite discernir todas as aberrações que estudamos como variações da vida sexual normal e como manifestações da patológica. a) na vida psíquica de todos os neuróticos (sem exceção) encontram-se moções de inversão, de fixação da libido em pessoas do mesmo sexo (…) b) no inconsciente dos psiconeuróticos é possível demonstrar, como formadoras do sintoma, todas as tendências à transgressão anatômica (…) c) um papel muito destacado entre os formadores de sintomas das psiconeuroses é desempenhado pelas pulsões parciais, que na maioria das vezes aparecem como parte de opostos [exibicionismo-voyerismo; sadismo-masoquismo, por exemplo]”.

Doravante, a indicação do infantilismo da sexualidade se impõe de forma determinante, na demarcação do campo discursivo da psicanálise, pois, “ao demonstrar as moções perversas enquanto formadoras de sintomas nas psiconeuroses, aumentamos extraordinariamente o número de seres humanos que poderiam ser considerados perversos”. É por isso que a extraordinária difusão das perversões levou Freud a suposição de que a perversão é constitutiva da sexualidade considerada até então como normal, ou seja, tal como enunciada pelo discurso biológico. Dessa forma, a sexualidade infantil, concebida como polimorfa e perversa, invadiu o discurso da normalidade e a longa procissão de anormais desfila como deuses e crentes desaparecidos.

3- Bibliografia Básica para o 1º semestre de 2013

{Como iremos percorrer um conjunto de textos, cada um dos inscritos deverá providenciá-los. Todos estão publicados na Coleção Standard das Obras Completas da Editora Imago, nos volumes indicados}

20/02

1892 – Rascunho A – plano geral da etiologia – vol. I

1893 – Comunicação Preliminar – item C – Sobre a teoria dos Ataques histéricos – vol. I

1893 – Rascunho B – A etiologia das neuroses – vol. I

1894 – Rascunho D – Sobre a Etiologia e a Teoria das Principais Neuroses – vol. I

1894 – Rascunho E – Como se origina  angústia – vol. I

 

06/03

1895 – Estudos sobre a Histeria – Capítulo IV – A psicoterapia da histeria – vol. II

 

20/03

1896 – Hereditariedade e a etiologia das neuroses – vol. III

 

02/04

1896 – A etiologia da Histeria – vol. III

1898 – A Sexualidade na Etiologia das Neuroses – vol. III

 

08 e 22/05; 05/06

1905Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade – vol. VII

 

19/06

1906 – Meus pontos de vista sobre o papel desempenhado pela sexualidade na etiologia das neuroses – vol. VII