O laço social na perspectiva da psicanálise
atualidade do ensaio Psicologia das Massas e Análise do Eu (1921)
O instinto de rebanho, a servidão voluntária e o laço social
2º semestre / 2019
Cronograma:
07 e 21 agosto; 04 e 18 setembro; 02, 16 e 30 outubro; 13 e 27 novembro
4ª feira das 19h às 21h
Pagamento: R$ 70,00 a cada encontro
Local: Edifício Primus Center
Av. Independência, 350 – sala 43
Vagas limitadas: 20
Inscrição: mmariguela@gmail.com
“Há muito me impressiono com fenômenos que as teorias sociológicas tendem a deixar à sombra ou a ocultar deliberadamente: Por que os indivíduos e os grupos sociais funcionam a partir da crença e tem necessidade de viver na ilusão, no disfarce e no erro? Por que o social é antes de tudo o reino da certeza e do esquecimento da verdade? Indivíduos que, isoladamente, são às vezes capazes de pensamento livre e rigoroso, por que razões, quando em grupo, identificam-se ao mestre e a seus ideais e sustentam as ações mais absurdas e as menos suscetíveis de favorecer realização de seus desejos? Em síntese, por que a obediência é tão fácil, a servidão voluntária tão frequente, enquanto a revolta se revela tão difícil e o desejo de autonomia tão frágil?”
Eugène Enriquez – Da Horda ao Estado – ensaio de psicanálise do laço social, 1983
Enunciado:
Seguimos com o trabalho de leitura do ensaio Psicologia das Massas e Análise do Eu, escrito por Freud em 1921. É um ensaio integrante da série de outros dedicados ao que se convencionou chamar de ciências da cultura ou mesmo, ciências do espírito. Ele tem o dom da profecia: anunciou o que estava por vir com ascensão do nazismo na Alemanha, do fascismo na Itália, franquismo na Espanha…
Admitindo que a psicologia de massas “trata o ser individual como membro de uma tribo, um povo, uma casta, uma classe, uma instituição, ou como parte de uma aglomeração que se organiza como massa em determinado momento, para certo fim”; Freud investigou os fenômenos que surgem em condições de ruptura de uma laço natural de identificação: o instinto social, de rebanho, a mente do grupo. A hipótese da gênese do instinto de rebanho na formação da psique da massa é fundadora de certa perspectiva para interpretar o laço social.
Freud, artífice de bela retórica, lança sua hipótese antes de constatar o longo trabalho de pesquisa que haveria pela frente: desde a psicanálise, “o instinto de rebanho (social) não é primário e nem indivisível; e os primórdios da sua formação podem ser encontrados num círculo mais estreito como o da família”
“A psicologia das massas, embora se ache apenas no início, compreende uma vasta gama de problemas e coloca para o pesquisador incontáveis tarefas, que ainda não foram sequer diferenciadas”. A primeira tarefa de Freud foi estabelecer “três perguntas: 1) o que é uma massa; 2) de que maneira adquire ela a capacidade de influir tão decisivamente na vida psíquica do indivíduo, e 3) em que consiste a modificação psíquica que ela impõe ao indivíduo?”
Até o capítulo 3 Freud se ocupou das duas primeiras perguntas; e, a 3ª encontra sua resposta no capítulo 4 [Sugestão e Libido]. Para então, no capítulo 5, exemplificar seus argumentos analisando “duas massas artificiais: Igreja e Exercito”. Considerou artificiais pela “coação externa utilizada para evitar sua dissolução e impedir mudanças em suas estruturas. Nestas massas altamente organizadas, que daquela maneira se protegem da dissolução, podem ser reconhecidos certos fatos que em outros casos se acham bem mais ocultos”.
A intenção de Freud em escolher estas duas massas “bastante organizadas, duradouras e artificiais” esta na perspectiva que tal analise abre: “distinção, pouco considerada pelos pesquisadores do tema, entre massas com líder e sem líder”. Interessou capturar um fenômeno importante: a substituição do líder por uma ideia [representação] condutora e a relação entre ambos [líder/ideia].
Ao ter destacado a função do líder na psicologia das massas, Freud reconheceu que sua perspectiva “permite esclarecer o principal fenômeno da psicologia das massas: a ausência de liberdade do indivíduo na massa”. É deste ponto que prosseguimos na investigação da morfologia das massas; seguindo passo a passo o raciocínio de Freud e extraindo argumentos que nos instigue a pensar a política e a clínica na atualidade.
Bibliografia Básica:
FREUD, Sigmund “Psicologia das Massas e Análise do Eu” (1921). In: Obras Completas, volume 15. Tradução Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2011
_________ “A moral sexual cultural e o nervosismo moderno” (1908) In: Obras Completas, volume 8. Tradução Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2015
_________ “Totem Tabu [algumas concordâncias entre a vida psíquica dos homens primitivos e dos neuróticos -1912-1913]” In: Obras Completas, volume 11. Tradução Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2012
La BOÈTIE, Étienne Discurso da Servidão Voluntária (1577). Tradução Gabriel Perissé, São Paulo: Editora Nós, 2016.
ENRIQUEZ, Eugène Da horda ao Estado: psicanálise do vínculo social. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.