PROJETO PSICANÁLISE EM EXTENSÃO – 15ª SESSÃO DO DIÁLOGO CINEMATICO
Filme: Querelle (Alemanha/França, 1982)
Diretor: Rainer Werner Fassbinder
29/outubro/2011 – 15h – entrada franca
Rua Prudente de Moraes, 1314 – Bairro Alto – Piracicaba – SP
vagas limitadas – inscrição: mmariguela@gmail.com
Mediador: Maurício José Pinto, graduação em História e Filosofia pela Universidade Metodista de Piracicaba, membro participante dos grupos de leitura de Freud e Lacan em Piracicaba.
“Em minha opinião, ali não se trata de homicídio e homossexualidade, mas antes de alguém que tenta encontrar sua identidade com todos os meios disponíveis nesta sociedade. Este é propriamente o tema do romance Querelle – pelo menos em minha opinião. Para ser idêntico a si mesmo, Querelle tem que observar tudo o que faz a partir de dois ângulos. Do ângulo apontado pela sociedade como criminoso – portanto oriundo da baixeza – e que não o ajuda em nada, pois ele tem que mistificar a coisa por outro ângulo. Só assim Querelle consegue dar um passo adiante”. Rainer Werner Fassbinder
Voltar a Querelle através da obra literária de seu autor, Jean Genet, e através da interpretação em película realizada por R.W.Fassbinder pouco antes de morrer, é sempre um desafio: não é uma obra que agrada ao bom senso da moral. Querelle interroga a moral por vincular o ativo ao bem e o passivo ao mal. O bem e o mal são instituídos por Genet como juízo de quantidade. O forte é bom, o fraco é mau. O forte é livre, o fraco é escravo.
No ensaio de crítica da obra de Genet (originalmente como introdução às obras completas pela Editora Gallimard), Jean-Paul Sartre pretendeu desvendar o misterioso Genet. Se o destino é determinação externa, influência histórica objetiva ou cadeia causal, seu conceito rechaçaria, de forma lógica, a liberdade. Liberdade é possibilidade de escolha, possibilidade da qual, segundo Sartre, não se pode escapar. Nosso destino é a liberdade: “Somos condenados à liberdade”. Genet, por um ato de escolha, cria-se a si mesmo através de seus personagens: ladrão, adorador do Mal e, por fim, esteta e artista de sua própria experiência existencial.
Sua literatura é permanente celebração do amor homoerótico como estratégia para interrogar a relação entre forças. Querelle é composto por cáften, travestis, adolescentes angelicais, másculos marinheiros, soldados e assaltantes que têm em comum a predileção pelas práticas homoeróticas. Nesse mundo particular, as mulheres são coadjuvantes: senhoras de meia-idade, matronas cafetinas, se comprazem em realizar a fantasia edipiana acolhendo jovens amantes em seu leito. Há uma exceção: a mulher cantante (brilhantemente interpretada por Jeanne Moreau) entoando um lamento: “O homem mata o que ama”. Ela é o laço entre Querelle e seu irmão.
Jean Genet criou um mundo d´deles: “Entre eles, apenas para eles, estabelecia-se um universo (com suas leis e relações secretas, invisíveis) onde a idéia da mulher estava banida.” Trata-se, portanto, de criar a mulher no universo d´eles, definindo o papel passivo e feminino na relação homoerótica. Esse papel, Genet parece resguardar para si mesmo: ao lado dos másculos, violentos e não efeminados, tal como Querelle. Trapaceando com a sorte num lance de dados, Querelle afirma sua liberdade. As posições são definidas pela extensão quantitativa da força: os fracos e dos fortes. Os escravos e os livres.
na WEB:
– homenagem grega ao filme:
http://www.youtube.com/watch?v=rv6o7eRJpDk&feature=related
– um trecho do filme, dublado em itáliano:
http://www.youtube.com/watch?v=e_erNCBY55I
– Janne Moreau cantando com ensaio fotografico do filme:
http://www.youtube.com/watch?v=8gWqqF6j-WI&feature=results_video&playnext=1&list=PL658525E62A40AED4