Genealogia do Infantil em Sigmund Freud e Michel Foucault
Ao adjetivar a sexualidade humana como infantil, Freud se tornou protagonista de um duplo escândalo. Por um lado, o adulto não pode mais ser considerado um sujeito ideal que teria ultrapassado as etapas infantis de sua sexualidade, uma vez que foi nas análises de pacientes adultos que se descobriu que os sintomas neuróticos têm origem sexual: o infantil continua determinante na formação dos sintomas durante a vida. Por outro lado, a sexualidade da criança que empresta seu corpo à realização do sexual, possui o caráter “perverso e polimorfo”, deslocando a sexualidade humana de qualquer finalidade adaptativa.
Propomos percorrer um trajeto na obra de Sigmund Freud e de Michel Foucault para delimitar o ponto de ruptura introduzido pela tese freudiana da sexualidade infantil, bem como as suas consequências clínicas, éticas e políticas, particularmente na clínica com crianças, tendo em vista a posição da criança no discurso parental.
O curso será ministrado por Márcio Mariguela e Marta Togni Ferreira
Em parceria com a Týkhe Associação de Psicanálise de Campinas
http://www.tykhepsicanalise.com
Cronograma:
05 e 12/março; 02 e 09/abril; 07 e 14/maio; 04 e 11/junho.
Local: Rua Saldanha Marinho, 792 – Piracicaba – SP
Sábados: das 10h às 12h
Vagas limitadas: 30 – Certificado de Participação.
Contato e Inscrições: tyhkepsicanalise@
A secretaria da Týkhe- Associação de Psicanálise funciona às terças e quintas-feiras, das 15 às 20h.
Contato: Marli, telefone (19) 3253-1945.
Formas de pagamento:
1 – R$ 645,00, em 3 x R$ 215,00
inscrição + 2 cheques pré-datados (09/04 e 07/05) entregues em 05/03.
2 – R$ 500,00 a vista – no ato da inscrição.
3 – R$ 400,00 a vista para assinantes do Jornal de Piracicaba – comprovação no dia 05/03
Obs: a vaga será garantida com o envio do comprovante de depósito bancário até 3 dias depois de solicitar a inscrição e receber instruções para pagamento
CURSO DE PSICANÁLISE COM CRIANÇAS – 2016 – Módulo I
Genealogia do Infantil em Sigmund Freud e Michel Foucault
Ministrado por:
Marcio Mariguela
psicanalista, graduação e especialização em filosofia, doutor em psicologia da educação pela Unicamp.
Marta Togni Ferreira
psicanalista, graduação em ciências médicas pela Unicamp com especialização em psiquiatria infantil, membro fundadora da Tykhé -Associação de Psicanálise de Campinas.
Enunciado:
No texto “Contribuição à História do Movimento Psicanalítico” de 1914, Sigmund Freud afirmou que a psicanálise é uma invenção unicamente sua e reivindicou o direito de estabelecer os pilares e limites de sua nova ciência: a psicanálise. São eles: o recalque e a resistência, isto é, o retorno do recalcado na transferência, a sexualidade infantil e o trabalho com os sonhos no conhecimento do inconsciente.
Ao adjetivar a sexualidade humana como infantil, Freud se tornou protagonista de um duplo escândalo. Por um lado, o adulto não pode mais ser considerado um sujeito ideal que teria ultrapassado as etapas infantis de sua sexualidade, uma vez que foi nas análises de pacientes adultos que se descobriu que os sintomas neuróticos têm origem sexual: o infantil continua determinante na formação dos sintomas durante a vida. Por outro lado, a sexualidade da criança que empresta seu corpo à realização do sexual, possui o caráter “perverso e polimorfo”, deslocando a sexualidade humana de qualquer finalidade adaptativa.
Ao situar a sexualidade infantil como um elemento central da teoria e da prática da psicanálise, Freud deslocou os ideais da moral burguesa, secular e cristã, sobre a infância e o papel social da criança. Sua experiência clínica de tratamento do sofrimento psíquico ficou restrita a jovens e adultos. Coube a seus seguidores aplicar a técnica e a teoria psicanalítica no trabalho clínico com crianças.
A psicanálise com crianças floresceu em várias escolas e abordagens ao longo do século XX, diversificando suas práticas e gerando intensos debates e questionamentos. Hoje, não é possível ignorar os efeitos da incidência maciça do discurso da psiquiatria na clínica com crianças, promovendo novas demandas e desafios ao psicanalista, às famílias e às crianças.
- Como preservar e validar um lugar para esse sujeito que se apresenta com seu sofrimento singular?
- Como franquear à criança a realização de sua existência diante da pressão para que o mal-estar seja apagado sem deixar restos?
No curso “O Poder Psiquiátrico” (1973-1974), Michel Foucault demonstrou como a generalização do poder psiquiátrico se iniciou pela tomada da criança como objeto de vigilância e de tratamento a partir de meados do século XVIII. Esse movimento progride no século XIX tendo como objeto principal o controle das manifestações sexuais da criança e atinge seu ápice em nossos dias, com o advento de uma psiquiatria “pragmática”, centrada no diagnóstico, no tratamento medicamentoso e nas terapias que visam à adaptação dos comportamentos.
O primeiro personagem da intervenção psiquiátrica em grande escala foi a criança retardada, a que não se desenvolvia de acordo com as normas. A hegemonia da psiquiatria tem sua gênese na apropriação do conceito de desenvolvimento como processo temporal, trazido do discurso neurológico. A partir daí a criança se tornou objeto de uma dupla normatividade: por um lado, seu desenvolvimento é comparado ao das outras crianças de sua idade e, por outro, ela deve atingir no futuro um ideal de desenvolvimento e de aquisições que se supõe no adulto.
O desenvolvimento se tornou processo de normatização teleológica. Os germes da doença mental do adulto estão presentes na infância, o que justifica a estrita vigilância dos comportamentos da criança e, por outro lado, a permanência de qualquer traço do infantil no adulto deve ser tomada como sinal de anormalidade.
Os pais e a família serão, mais do que nunca, demandados nessa tarefa infinita de cuidar de seus filhos, de educar para que não se desviem, de cuidar principalmente de sua saúde, de cuidar para que cumpram o que se espera deles no futuro. A criança se torna o depositário dos ideais de futuro do adulto, guardando em potência todas as possibilidades de gozo da vida frustradas no adulto.
Propomos percorrer um trajeto na obra de Sigmund Freud e de Michel Foucault para delimitar o ponto de ruptura introduzido pela tese freudiana da sexualidade infantil, bem como as suas consequências clínicas, éticas e políticas, particularmente na clínica com crianças, tendo em vista a posição da criança no discurso parental.
O infantilismo sexual é o nome do ser pulsional acossado pelo Real do sexo e, pela falta de resposta ao seu ser sexuado, terá que inventar sua própria teoria sexual. A psicanálise visa o sujeito, em qualquer idade, na sua luta com os enigmas do ser, do sexo e da morte.
Programa:
- Genealogia e acontecimento: a invenção da psicanálise
- A criança e o infantil na psicanálise: desenvolvimento e descontinuidade
- A generalização do poder psiquiátrico
- A psiquiatrização da infância: o lugar de fundação da doença mental
- A medicalização da criança e a reorganização do espaço familiar
- A sexualidade infantil e o auto-erotismo
- O infantilismo sexual entre a sedução e a fantasia
- O sintoma da criança é coletivo
Bibliografia Básica:
FREUD, Sigmund “A Sexualidade Infantil” 2º Ensaio. In: Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905). Edição Standard das Obras Completas. Volume VII. 2ª edição. Rio de Janeiro: Imago, 1989.
_______ Minhas Teses sobre o papel da sexualidade na etiologia das neuroses (1906). Idem.
_______ O debate sobre a masturbação (1912) e Duas mentiras infantis (1913). Obras Completas volume 10. Tradução: Paulo Cesar Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
_______Contribuição à História do Movimento Psicanalítico (1914) e O interesse da psicanálise (1913). Obras Completas volume 11. Tradução: Paulo Cesar Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
FOUCAULT, Michel Aula de 16/01/1974 in: O poder psiquiátrico. Curso no Collège de France. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
________ Aula de 05/03/1975 in: Os anormais. Curso no Collège de France. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
LACAN, Jacques “Nota sobre a criança” in: Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
FERENCZI, Sandor “A importância científica dos Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade de Freud”. Prefácio à edição húngara. In: Obras Completas II. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
REZENDE, Haroldo Michel Foucault – o governo da infância. Belo Horizonte-MG: Autentica, 2015.
Apoio: