Curso de História da Filosofia
Módulo 2 – Schopenhauer, depois Nietzsche & Freud
Cronograma:
03, 17 e 31 agosto; 14 e 28 setembro; 05 e 19 outubro; 09 e 23 novembro
Sábado das 10 as 12h
Local: Edifício Primus Center
Av. Independência, 350 – sala 43 – Piracicaba – SP
Vagas limitadas: 20
Pagamento: R$ 70,00 a cada encontro
Observação: Módulo 1 não é pré-requisito para Módulo 2
Inscrição: mmariguela@gmail.com
Enunciado:
A proposta de trabalho do Módulo 2 do Curso de História da Filosofia consiste em destacar os argumentos de Arthur Schopenhauer sobre a Vontade como conceito filosófico fundamental. Vontade: força cega, irracional, sem meta, direção ou finalidade. Para além da consciência, a vontade tem o estatuto inconsciente.
Vamos nos deter ao 2º livro [O mundo como vontade – 1º ponto de vista: a objetivação da vontade] da obra O Mundo como Vontade e Representação. A premissa inicial é a seguinte: “Todo ato real de nossa vontade é, ao mesmo tempo e infalivelmente, um movimento do nosso corpo. O ato voluntário e a ação do corpo não são dois fenômenos objetivos diferentes, ligados pela causalidade; não estão entre si numa relação de causa e efeito; eles são apenas um só e mesmo fato. Sim, o corpo inteiro é apenas vontade objetivada. Meu corpo é a condição do conhecimento da minha vontade”.
Iremos estender, expandir esta premissa com dois exemplos de aplicabilidade na criação da filosofia de Nietzsche e na psicanálise de Freud. Deste modo, admitimos que ambos foram geniais leitores de Schopenhauer. Suponho mesmo que Freud chegou a Schopenhauer através de Nietzsche.
Schopenhauer gostava de usar o substantivo fanfarronada (Windbeutelei) para rejeitar o saber absoluto dos filósofos idealistas alemães, Fichte, Schelling e, principalmente, Hegel, todos leitores de Kant. Chamar de fanfarrão os grandes totens do pensamento filosófico alemão, na viragem do século 18 e alvorecer do século 19, demonstra o grau de importância que o jovem alemão devotava aos fundadores do idealismo.
No verão de 1811, Schopenhauer decidiu matricular-se na Universidade de Berlim, fundada em 1809, com o propósito de assistir as aulas ministradas por Fichte, “verdadeiro filósofo da atualidade”. A modernidade de Berlim foi o local de emergência da filosofia contemporânea.
Com a tese “Sobre a Quádrupla Raiz do Princípio de Razão Suficiente”, Schopenhauer tornou-se doutor em Filosofia em 1813. De Platão, Descartes, Hume, Kant, Fichte e Hegel, a entrada em cena define posição de desmontar o sistema metafísico e ao mesmo tempo, resgatar a dimensão ontológica: O Mundo como Vontade e Representação, obra germinal publicada em 1819.
No ano seguinte foi admitido como professor na Universidade de Berlim, onde ocorriam as disputadas cadeiras de ouvinte das aulas proferidas por Hegel. Decidiu oferecer, no mesmo dia e horário das aulas de Hegel, um curso intitulado: “A Filosofia Inteira, ou O Ensino do Mundo e do Espírito Humano”.
O curso contou com quatro ouvintes e, no final do semestre, renunciou ao trabalho universitário e perambulou pela Itália amargando o fracasso como escritor e professor. Mergulhado num estado melancólico, sem recursos para sustentar-se, fixou residência em Frankfurt em 1833 onde permaneceu até sua morte em 1860, na companhia exclusiva de seu cão.
A temporada em Frankfurt foi fértil na produção filosófica. Redigiu dois ensaios; “Sobre a Liberdade da Vontade”, inscrito no concurso da Academia de Ciências de Drontheim (Noruega) e, “O Fundamento da Moral”, inscrito no concurso da Academia de Copenhague. Ambos causaram efeitos bombásticos: detonou o sistema filosófico de Fichte e de Hegel, provocando grande escândalo no cenário filosófico de seu tempo.
O livro O Mundo como Vontade e Representação permaneceu no silêncio da história até 1851, quando o nome de Schopenhauer tornou-se popular. Amargurado por não conseguir o reconhecimento público de sua tese principal, redigiu Parerga e Paralipomena. Espécie de pessimismo em gotas, o livro ganhou o gosto dos jovens universitários desiludidos e desencantados com o sistema hegeliano. Com o sucesso de venda, o livro de nome estranho ressuscitou a grande obra O Mundo como Vontade e Representação.
Um artigo publicado na Inglaterra, saudando a filosofia de Schopenhauer como a novidade alemã no crepúsculo do hegelianismo, é um marco do crescente interesse pelas ideias do filósofo de Frankfurt. Schopenhauer conseguiu, nos últimos anos de vida, o reconhecimento tão almejado. Pouco antes de morrer, havia cursos dedicados à sua obra em várias Universidades da Europa e a Academia Real de Ciências de Berlim lhe ofereceu o título de membro que, de pronto, foi recusado.
Schopenhauer tornou-se filósofo na condição extemporânea e é, justamente, nesta condição que o jovem Friedrich Nietzsche o reconheceu, ao escrever suas Considerações Extemporâneas em 1874:
“coube a Schopenhauer, o educador, o privilégio de não ser destinado de antemão a ser erudito nem educado para isso, mas efetivamente trabalhado por algum tempo, embora a contragosto, em um balcão de comerciante; e isso lhe permitiu respirar o ar mais livre de uma grande casa comercial. Um erudito nunca pode tornar-se um filósofo”.
Bibliografia Básica:
SCHOPENHAUER, A. O Mundo como Vontade e Representação. Tradução: M.F. Sá Correia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2001.
SCHOPENHAUER, A. Parega e Paraliponema: pequenos escritos filosóficos. Seleção e Tradução de Wolfgang Leo Maar. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
MANN, Thomas. Pensadores Modernos: Freud, Nietzsche, Wagner e Schopenhauer. Tradução Márcio Suzuki. Rio de Janeiro; Zahar, 2015.
SAFRANSKI, Rüdiger. Schopenhauer e os anos mais selvagens da filosofia: uma biografia. Tradução William Lagos. São Paulo: Geração Editorial, 2011.