Freud, leitor de Schopenhauer
“Voces dirão talvez, encolhendo o ombro: ‘Isto não é ciência natural, é filosofia schopenhaueriana’. Mas por que, senhoras e senhores, um pensador ousado não teria adivinhado o que depois é confirmado pela sóbria e laboriosa pesquisa de detalhes?” (in: Novas Conferências Introdutórias à Psicanálise, 1933)
Cronograma:
04 junho – Aula Inaugural “Freud entre Nietzsche e Schopenhauer”
02 julho – Freud e o idealismo alemão: “O mundo como vontade e representação (1819)”
06 agosto – a vontade e o inconsciente: princípio de singularização
17 setembro – a pulsão sexual: Eros e Tanatos
22 outubro – sonho e recalcamento
19 novembro – a ética trágica na psicanálise
03 dezembro – o trágico e o absurdo: o sujeito do inconsciente
Horário: das 9h às 11h
30 vagas presenciais
30 vagas online (transmissão ao vivo pelo google meet)
Inscrição: WhatsApp – 19.998870409 (Luana)
R$ 70,00 por encontro (pagamento antecipado – PIX)
local: Natural Music – Rua Almirante Barroso, 579A – Piracicaba/SP
Enunciado:
No conjunto das obras completas [1895-1938] de Sigmund Freud, o nome de Arthur Schopenhauer aparece em diferentes momentos e com funções distintas na argumentação do inventor da psicanálise. Ponto de apoio recorrente na brilhante retórica de Freud, o nome do filosófo parece-me um farol aos navegantes nos mares da teoria psicanalítica.
Paul-Laurent Assoun, no livro Freud, a filosofia e os filósofos (1976), passou em revista a cada uma das quinze referências ao nome de Schopenhauer, destacando que no artigo publicado em 1933 no Le Mercure de France, André Fouconnet foi o primeiro na França, a destacar Schopenhauer como precursor de Freud: “é no pessimismo filosófico de Schopenhauer que Freud encontrou seu objeto filosófico … neste filósofo prescrito, maldito, Freud construiu uma identificação com sua própria condição na comunidade científica de seu tempo”.
A primeira referência a Schopenhauer aparece em A Interpretação dos Sonhos (1900) para legitimar o conceito de recalque na construção dos sonhos. Freud retirou da posição do filósofo sobre o sonho e o recalque o ponto de ancoragem para designar o encontro convergencial.
Em 1925, no relato autobiográfico, Freud afirmou: “as amplas concordâncias da psicanálise com a filosofia de Schopenhauer – ele chegou a vislumbrar o mecanismo do recalque – não se deixam reduzir ao meu conhecimento de sua doutrina. Eu li Schopenhauer muito tarde em minha vida”.
Freud reconheceu sua leitura de Schopenhauer e negou sua leitura de Nietzsche, dizendo que havia se privado da leitura do filósofo da Basiléia para não ser influenciado por suas idéias. No entanto, sustento a hipótese: Freud leu Schopenhauer, depois de ter lido Nietzsche. Ele chegou a Schopenhauer pela letra nietzschiana.
Se Nietzsche nomeou Schopenhauer seu unico mestre em filosofia, suponho que a curiosidade o levou àquele que inscreveu o trágico na filosofia e nas artes dita contemporâneas. A filosofia de Hegel está para o alvorecer, assim como a filosofia de Schopenhauer está para o crepúsculo do século XIX. Definitivamente nos séculos seguintes a filosofia seria hegeliana ou schopenhaueriana.
No relato histórico do movimento psicanalítico (1914), Freud contou que a “teoria do recalque foi construída sem nenhum precursor; e por muito tempo manteve esta posição até o dia em que Otto Rank me mostrou uma passagem do livro O mundo como vontade e representação (1819) onde o Schopenhauer se esforçou por fornecer uma explicação para a loucura”
Rank foi nomeado como o mediador entre Freud e Schopenhauer. Como membro atuante da primeira geração de psicanalistas, foi também o primeiro a destacar a importancia do pensamento filosófico de Nietzsche para compreender pontos cruciais da teoria do inconsciente emergente nas formulações iniciais de Freud.
Em 1913, Rank escreveu com Hans Sachs, “A importância da psicanálise para as Ciências do Espírito”. No capítulo dedicado a “Filosofia, ética e direito”, afirmaram que os sistemas filosoficos oferecem o material cognitivo para pensarmos a posição do humano em sua relação com o mundo exterior e o Universo. Destacaram a importância de separar a filosofia [sistemas] da personalidade dos filósofos, arquitetos dos sistemas.
Schopenhauer foi apresentado como tipo de pensador analítico onde a pulsão epistemofílica é investida no prazer dos processos de pensamento em si mesmo. O ato de criação filosófica é identificado no ato de criação artística. A Filosofia em sua sistematização histórica é apreendida como obra de arte e, os filósofos, poetas.
Bibliografia:
ASSOUN, Paul-Laurent Freud, a filosofia e os filósofos. tradução: Hilton Japiassu. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978.
ASSOUN, P.L. Freud & Nietzsche. Tradução Maria Lucia Pereira. São Paulo: Brasiliense, 1989
BRUM, José Thomaz O pessimismo e suas vontades: Schopenhauer e Nietzsche. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
FREUD, Sigmund Obras Completas em 20 volumes. Tradução Paulo Cesar Souza. São Paulo: Companhia das Letras.
FONSECA, Eduardo Psiquismo e vida: sobre a noção de Trieb nas obras de Freud, Schopenhauer e Nietzsche. Curitiba:UFPR, 2012.
FONSECA, Eduardo Uma estreita passagem: O conceito de corpo nas obras de Schopenhauer e Freud. Curitiba:UFPR, 2016.
PASTORE, Jassanan O Trágico: Schopenhauer e Freud. São Paulo: Primavera Editorial, 2015.
LACAN, Jacques O Seminario 7 A ética da psicanálise. versão brasileira de Antonio Quinet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.
MANN, Thomas Pensadores Modernos: Freud, Nietzsche, Wagner e Schopenhauer. Tradução Marcio Suzuki. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.
NIETZSCHE, Friedrich Schopenhauer como educador. Tradução Claudemir Luis Araldi. São Paulo: Martins Fontes, 2020.
ROSSET, Clément La Filosofia Trágica. Traducción Ariel Dilon. Buenos Aires: El cuenco de plata, 2010.
ROUDINESCO, Elisabeth Sigmund Freud – na sua época e em nosso tempo. Tradução André Telles. Rio de Janeiro: Zahar, 2016.
RANK, Otto SACHS, Hans Psychanalyse et Sciences humaines. traduit: Daniel Guérineau. Bibliothèque de Psychanalyse. Press Universitaires de France, 1980.
SAFRANSKI, Rüdiger Schopenhauer e os anos mais selvagens da filosofia. Tradução Willian Lagos. São Paulo: Geração Editorial, 2011.
SAFRANSKI, R. Nietzsche – biografia de uma tragédia. Tradução Lya Luft. São Paulo: Geração Editorial, 2001.