A filosofia encontrou seu devir no mundo da cultura na história do Ocidente na língua grega. A palavra escrita inaugurou o exercício do pensamento como recurso para a reflexão: o ser, o sentir e o existir nunca mais foram os mesmos.
No princípio, os deuses mitológicos, habitantes do Olimpo, serviram a matéria prima ao pensamento filosófico. Os afetos foram divinizados e para cada sentimento havia um deus correspondente. O mundo dos deuses penetrava no mundo dos homens e com eles estabeleciam relações de aliança, vingança e rivalidades.
Na Teogonia, o poeta Hesíodo traçou a gênese dos deuses e designando Eros como um dos deuses primordiais, atribuiu a ele o predicado de beleza: o mais belo dentre deuses imortais. Na hierarquia da beleza Olímpica, Eros é o destaque supremo.
Associação entre Eros e Beleza é tema predominante nos discursos sobre o amor. Na língua grega há três palavras para dizer o amor. Philos designa o amor ao irmão, amigo, companheiro de longa data. O amor entre os pais e filhos, também é philia.
Agapé é o amor espiritualizado, desencarnado dos apetites e desejos luxuriantes. Os fundadores do cristianismo encontraram nesta palavra o suporte para significar o mandamento do amor ao próximo. É o amor não sensual, elevado à categoria de identificar no próximo, meu semelhante, um ser passível de amor.
Eros nomeia o amor marcado pelo desejo de natureza sensual e sexual. Na escrita atribuída ao poeta Homero, Eros designava um desejo passível de realização. Desejo por alimentos e bebidas são equivalentes ao desejo sexual. Erótico é o amor corpóreo.
No século 7 a.C. surgiu o verbo Erãn para nomear o desejo apaixonado e um estado d’alma: estar apaixonado. O deus Eros personificado na iconografia Renascentista representa a força que nos conduz à paixão. O verbo nomeia o estado do ser apaixonado por pessoas, lugares, objetos e atividades. Erótico é a condição do amor-paixão.
O amor erótico é passional. Sir Kenneth Dover, pesquisador da Grécia Antiga, afirmou: “Eros é um forte desejo sexual reforçando o amor, normalmente gerando o amor, e é as vezes gerado pelo amor”.
O amor romântico inventado no século 18 de nossa era, encontrou nos relatos do amor-paixão do período das cavalarias do final da idade média sua fonte de inspiração. No ensaio O Amor e o Ocidente, Denis de Rougemont destacou que “a história do amor-paixão, em todas as grandes literaturas, desde o século 13 até nossos dias, é a história da decadência do mito cortês na vida profanada. É a narrativa das tentativas cada vez mais desesperadas de Eros para substituir a transcendência mística por uma intensidade comovida. Mas, grandiloquentes ou lamuriosas, as figuras do discurso apaixonado, as cores de sua retórica, nunca serão mais que exaltações de um crepúsculo, promessas de glória jamais cumpridas”.
Cantado, decantado em verso e prosa, retratado em telas e películas, o amor romântico é o modo de enlaçamento dos humanos na modernidade. Romântico é o amor que se eleva acima da realidade prosaica e cotidiana da vida. É uma aposta em Eros, o mais belo dentre os deuses imortais.
Fonte:
Revista Arraso / Noivas
Ano 9; nº 70; 1º semestre/2017
Ao Gato Preto Editora – Piracicaba/SP
Ilustração: Maria Luziano