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Psicanalista com formação em filosofia e doutor em psicologia da educação pela Unicamp.
Curso de História da Filosofia - 2023 A ética da Psicanálise e o princípio ético do cuidado de si em Michel Foucault

Curso de História da Filosofia – 2023

A ética da Psicanálise e o princípio ético do cuidado de si em Michel Foucault

Márcio Mariguela, psicanalista com formação em filosofia

“penso que a ética é uma prática, e o êthos, um modo, uma maneira de ser” (Foucault)

Cronograma:

29 julho – êthos e éthos: variações históricas entre ética e moral

26 agosto – História da Sexualidade: da genealogia do poder à genealogia da ética

30 setembro – genealogia da ética: o cuidado de si

28 outubro – hermenêutica do sujeito: inconsciente e desejo

25 novembro – os paradoxos da ética ou agiste em conformidade com teu desejo? Seminário 7 de Jacques Lacan

Horário: das 9h às 11:30h

30 vagas presenciais

vagas online (transmissão ao vivo pelo google meet)

Inscrição: WhatsApp – 19.998870409 (Luana)

R$ 70,00 por aula (150,00 na inscrição, 200,00 em 30 dias – PIX)

local: Natural Music – Rua Almirante Barroso, 579A – Piracicaba/SP

Enunciado:

Na entrevista, “A ética do cuidado de si como prática da liberdade” (janeiro/1984), Michel Foucault reconheceu seu procedimento filosófico situado entre dois polos, subjetividade e verdade: “desde sempre procurei saber como o sujeito humano entrava nos jogos de verdade, tivessem estes a forma de uma ciência ou se referissem a um modelo científico, ou fossem como os encontrados nas instituições ou nas práticas de controle. O problema das relações entre o sujeito e os jogos de verdade são considerados agora nos meus cursos no Collège de France como prática de si [cultura de si, cuidado de si]. Um fenômeno muito importante em nossas sociedades desde a era greco-romana, embora não tenha sido estudado”.

No curso A Hermenêutica do Sujeito, ministrado no início década 1980, dois anos antes de sua morte, Foucault pesquisou o fenômeno histórico das práticas de si. Os resultados desta pesquisa podem ser recolhidos na História da Sexualidade, volumes 2 {o uso dos prazeres} e 3 {O cuidado de si} publicados em 1984; e o volume 4 {As confissões da carne} publicação póstuma 2018.

No último curso proferido no Collège, A Coragem da Verdade, aula 1º/fevereiro/1984, vemos Foucault refazendo seu percurso: “este ano contínuo o estudo da fala franca, da parresia como modalidade do dizer-a-verdade. Venho pesquisando o tipo de ato pelo qual o sujeito, dizendo a verdade, se manifesta, e com isso quero dizer: representa a si mesmo e é reconhecido pelos outros como dizendo a verdade. Qual é a forma [aletúrgica] do sujeito que diz-a-verdade?

Na cultura antiga houve um jogo de práticas do dizer-a-verdade sobre si mesmo. “Essas práticas não são desconhecidas e não tenho em absoluto a pretensão de dizer que as descobri, não é minha intenção. O que fiz foi analisar essas formas práticas do dizer-a-verdade sobre si mesmo relacionando com um eixo central da cultura ocidental: o princípio socrático do conhece a ti mesmo”

Dois princípios fundantes: epiméleia heautoû {cuidado de si} e gnôthi seautón {conheça a si mesmo}. Da ética do cuidado de si para a moral do conhecer a si. A moral socrática-platônica subjugou o cuidado de si ao princípio délfico do conheça a si mesmo. Foucault marcou com precisão o tempo histórico desta virada decisiva para a emergência da moral cristã. Para cuidar de si é preciso conhecer a si. Repetimos esse mantra desde o aparecimento da moral socrática.

O objetivo das aulas neste modulo 5 do Curso de História da Filosofia é retornar ao curso A Hermenêutica do Sujeito para resgatar o princípio ético do cuidado de si e assim, insistir na distinção entre o campo da Ética e o campo da Moral. Este resgate permite reinscrever o cuidado de si como princípio da ética da psicanálise tal como descrita por Jacques Lacan no Seminário 7.

Grupo de Estudos: Leituras de Freud
Jacques Lacan

Na aula de 06 janeiro 1982, pouco depois da morte de Lacan, Foucault destacou a importância do psicanalista criador de Escola: “todo interesse e a força das análises de Lacan estão precisamente nisto: creio que Lacan foi o único depois de Freud a querer recentralizar a questão da psicanalise precisamente nesta questão das relações entre sujeito e verdade … ele tentou colocar a questão que, historicamente, é propriamente espiritual: a questão do preço que o sujeito tem a pagar para dizer o verdadeiro e a questão do efeito que tem sobre o sujeito o fato de que ele disse, de que pode dizer e disse, a verdade sobre si próprio”.

A psicanálise surgiu no mundo ocidental como mais uma variante das práticas de si na modernidade. “O dizer-a-verdade sobre si mesmo na cultura antiga foi uma atividade conjunta, uma atividade com os outros, e mais precisamente com um outro, uma prática a dois. E é o estatuto desse outro, tão necessário na prática do dizer-a-verdade sobre si mesmo que me reteve e me deteve”.

Foucault destacou: na cultura antiga a presença desse outro para o cuidado de si era variável e não institucionalizado como o será na cultura cristã com a figura do diretor de consciência; e na cultura moderna encarnado no médico, psiquiatra, psicólogo e psicanalista. Na antiguidade, esse outro pode ser qualquer um.

Inserir a psicanálise na série dos fenômenos das práticas de si, identificado por Foucault na cultura greco-romana, tem implicações políticas significativas para interrogar a prática clínica da psicanálise na atualidade pela reincrição da ética do cuidado de si como prática de liberdade.

Bibliografia:

FOUCAULT, Michel A Hermenêutica do Sujeito. Tradução: Marcio Alves da Fonseca e Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 1ª edição 2004.

____________ A Coragem da Verdade. São Paulo: Martins Fontes,2011.

____________ O governo de si e dos outros. São Paulo: Martins Fontes,2010.

____________ História da Sexualidade. I-A vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 5ª edição 1984.

____________ História da Sexualidade. II- O uso dos prazeres. Rio de Janeiro: Graal, 1ª edição 1984.

____________ História da Sexualidade. III- O cuidado de si. Rio de Janeiro: Graal, 1ª edição 1985.

____________ História da Sexualidade. IV- As confissões da carne. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1ª edição 2020.

____________ “Sobre a Genealogia da Ética: um resumo do trabalho em curso” in: Ditos & Escritos IX. Rio Janeiro: Forense Universitária,2014.

____________ “A ética do cuidado de si como prática da liberdade”; “Uma estética da existência”; “Verdade, Poder e Si Mesmo” in: Ditos & Escritos V. Rio Janeiro: Forense Universitária, 2004.

LACAN, Jacques O Seminario 7 A ética da psicanálise. versão brasileira de Antonio Quinet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.

____________ “Kant com Sade” in: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

SOUZA, Sandra Coelho A Ética de Michel Foucault: a verdade, o sujeito, a experiencia. Bélem-PA:Cejup, 2000.

BIRMAN, Joel Entre cuidado e saber de si: sobre Foucault e a Psicanálise. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2000.

KEHL, Maria Rita Sobre Ética e Psicanálise. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

MARIGUELA, Marcio “Genealogia da ética: o sujeito em questão” in: Revista Temática Digital – FE/Unicamp, 2007

http://marciomariguela.com.br/wp-content/uploads/2010/04/genealogia_da_etica.pdf

_______________ “O retorno a formação: por uma ética da palavra” In: UM Retorno a Freud – Organizado por Nina Virgínea de Araújo Leite e Flávia Trocolo – Campinas: Mercado de Letras, 2009

http://marciomariguela.com.br/wp-content/uploads/2010/05/retorno-a-formacao.pdf

_____________ “Sexualidade e a ética do cuidado de si” in Educação: Teoria e Prática, v.18 n.30 UNESP, 2008

http://marciomariguela.com.br/wp-content/uploads/2010/04/revista_unesp.pdf

_____________ “A criação da psicanálise e a invenção de um psicanalista” in: Revista Literal 13 Escola de Psicanálise de Campinas, 2010.

http://marciomariguela.com.br/wp-content/uploads/2011/04/revista_literal_13.pdf

Paul Gauguin

Os Amigos: Vincent e Paul Gauguin

Vincent Van Gogh desembarcou na tumultuada Paris dos impressionistas em março de 1886 e foi morar no bairro Montmarte, reduto parisiense dos artistas recusados pelos jurados do Salão de Belas Artes. Tinha 33 anos e vivia num estado psíquico atormentado pelo desejo de tornar-se um pintor, um pesquisador das cores. Seu irmão Theo era gerente da filial da casa de comercio de artes que pertencia a um tio da Holanda.

Vincent Van Gogh
Vincent Van Gogh

Édouard Manet com seu quadro Olympia, recusado pelo júri, reuniu, em torno de si, um grupo de pintores que estavam revolucionando a arte pictórica moderna: Edgar Degas, Claude Monet, Renoir, Pissarro, Cézanne, Sisley e Berthe Morisot, a única mulher do grupo. A maioria deles tinha por volta de trinta anos.

Ao chegar a Paris, Vincent ainda teve tempo de visitar a oitava e última exposição dos impressionistas. Descobre a pintura luminosa, onde as cores são a matéria-prima da expressão pictórica. Conhece Toulouse-Lautrec, Paul Gauguin, Seurat, Cézanne e o comerciante de tintas Mrs.Tanguy, com quem conheceu as estampas japonesa e ficou encantado.

Paul Gauguin era um jovem corretor da Bolsa de Valores e, nas horas vagas, tentava imitar os pintores impressionistas: tamanha admiração o levou a investir suas poucas economias na aquisição das telas recusadas pelo Salão. Foi assim um dos primeiros colecionadores destas obras marginais ao padrão estético dominante.

Paul Gauguin
Paul Gauguin

Exausto e sem encontrar um vínculo de criação artística com quem pudesse ter interlocução em sua pesquisa, Vincent deixa Paris e vai em busca do sol no sul em Arles, região da Provença. Encanta-se com o esplendor das cores radiadas pelo sol mediterâneo na primavera em campos de trigo, girassóis e lavanda.

Em junho de 1888, Vincent escreveu um balanço de sua estadia em Paris e os contatos que manteve com o movimento impressionista. Reconheceu a importância histórica de Édouard Manet e o escândalo que causou com sua Olympia. Disse que Manet esteve bem perto de casar a forma com a cor. Casamento que Vincent buscava sem cessar: “todas as cores que o impressionismo pôs na moda são inconstantes, razão a mais para eu utilizá-las muito cruas”.

O desejo de formar uma comunidade de pintores em Arles moveu Vincent arrebanhar seus companheiros de Paris. Dos amigos convidados, somente Paul Gauguin aceitou essa empreitada com um desfecho trágico: numa das discussões entre eles, Vincent cortou um pedaço da orelha e entregou como pagamento para a mulher no bordel, envolvida sexualmente com um e, amorosamente, com o outro.

O convite para formar o Ateliê do Sul foi assim redigido: “Meu caro camarada Gauguin, quero lhe contar que acabei de alugar uma casa de quatro cômodos aqui em Arles. Se desejar trabalhar no Sul e, tal como eu, esteja absorvido o bastante em seu trabalho para se resignar a viver como um monge que frequenta o bordel uma vez por quinzena, então venha. Meu irmão Theo enviará 250 francos por mês para nós dois; em troca, você daria a meu irmão uma pintura por mês”.

Gauguin aceitou a oferta porque estava falido em Pont-Aven e implorava a Theo para vender suas telas para quitar suas dívidas. Vincent estava convencido que a casa amarela em Arles seria uma usina produtora de telas. E foi, com apenas um operário: Van Gogh, o gênio das cores.

in: Jornal Cidade – Rio Claro/SP – agosto/2022 – Projeto Conhecimento para Todos

Aula Inaugural "Freud e a Filosofia"

Aula Inaugural “Freud e a Filosofia”

Freud reconheceu sua leitura de Schopenhauer e negou sua leitura de Nietzsche, dizendo que havia se privado da leitura do filósofo de Basiléia para não ser influenciado por suas ideias. No entanto, sustento a seguinte hipótese: Freud leu Schopenhauer pela letra nietzschiana.

Se Nietzsche nomeou Schopenhauer seu único mestre em filosofia, suponho que a curiosidade o levou a àquele que inscreveu o trágico na filosofia e nas artes dita contemporâneas. A filosofia de Hegel está para o alvorecer, assim como a filosofia de Schopenhauer está para o crepúsculo do século XIX. Definitivamente nos séculos seguintes a filosofia seria hegeliana ou schopenhaueriana. Freud fez sua aposta. E, estou certo, ganhou.

Mais Informações em: https://www.even3.com.br/aifeafcmm2022/

Organizado por:

NEPS-R | Núcleo de Estudos de Psicanálise de Sorocaba e Região

Curso de História da Filosofia – 2022

Freud, leitor de Schopenhauer

“Voces dirão talvez, encolhendo o ombro: ‘Isto não é ciência natural, é filosofia schopenhaueriana’. Mas por que, senhoras e senhores, um pensador ousado não teria adivinhado o que depois é confirmado pela sóbria e laboriosa pesquisa de detalhes?” (in: Novas Conferências Introdutórias à Psicanálise, 1933)

Cronograma:

04 junho – Aula Inaugural “Freud entre Nietzsche e Schopenhauer”

02 julho – Freud e o idealismo alemão: “O mundo como vontade e                                            representação (1819)”

06 agosto – a vontade e o inconsciente: princípio de singularização

17 setembro – a pulsão sexual: Eros e Tanatos

22 outubro – sonho e recalcamento

19 novembro – a ética trágica na psicanálise

03 dezembro – o trágico e o absurdo: o sujeito do inconsciente

Horário: das 9h às 11h

30 vagas presenciais

30 vagas online (transmissão ao vivo pelo google meet)

Inscrição: WhatsApp – 19.998870409 (Luana)

R$ 70,00 por encontro (pagamento antecipado –  PIX)

local: Natural Music – Rua Almirante Barroso, 579A – Piracicaba/SP

Enunciado:

No conjunto das obras completas [1895-1938] de Sigmund Freud, o nome de Arthur Schopenhauer aparece em diferentes momentos e com funções distintas na argumentação do inventor da psicanálise. Ponto de apoio recorrente na  brilhante retórica  de Freud, o nome do filosófo parece-me um farol aos navegantes nos mares da teoria psicanalítica.

Paul-Laurent Assoun, no livro Freud, a filosofia e os filósofos (1976), passou em revista a cada uma das quinze referências ao nome de Schopenhauer, destacando que no artigo publicado em 1933 no Le Mercure de France, André Fouconnet foi o primeiro na França, a destacar Schopenhauer como precursor de Freud: “é no pessimismo filosófico de Schopenhauer que Freud encontrou seu objeto filosófico … neste filósofo prescrito, maldito, Freud construiu uma identificação com sua própria condição na comunidade científica de seu tempo”.

A primeira referência a Schopenhauer aparece em A Interpretação dos Sonhos (1900) para legitimar o conceito de recalque na construção dos sonhos. Freud retirou da posição do filósofo sobre o sonho e o recalque o ponto de ancoragem para designar o encontro convergencial.

Em 1925, no relato autobiográfico, Freud afirmou: “as amplas concordâncias da psicanálise com a filosofia de Schopenhauer – ele chegou a vislumbrar o mecanismo do recalque – não se deixam reduzir ao meu conhecimento de sua doutrina. Eu li Schopenhauer muito tarde em minha vida”.

Freud reconheceu sua leitura de Schopenhauer e negou sua leitura de Nietzsche, dizendo que havia se privado da leitura do filósofo da Basiléia para não ser influenciado por suas idéias. No entanto, sustento a hipótese: Freud leu Schopenhauer, depois de ter lido Nietzsche. Ele chegou a Schopenhauer pela letra nietzschiana.

Se Nietzsche nomeou Schopenhauer seu unico mestre em filosofia, suponho que a curiosidade o levou àquele que inscreveu o trágico na filosofia e nas artes dita contemporâneas. A filosofia de Hegel está para o alvorecer, assim como a filosofia de Schopenhauer está para o crepúsculo do século XIX. Definitivamente nos séculos seguintes a filosofia seria hegeliana ou schopenhaueriana.

No relato histórico do movimento psicanalítico (1914), Freud contou que a “teoria do recalque foi construída sem nenhum precursor; e por muito tempo manteve esta posição até o dia em que Otto Rank me mostrou uma passagem do livro O mundo como vontade e representação (1819) onde o Schopenhauer se esforçou por fornecer uma explicação para a loucura”

Rank foi nomeado como o mediador entre Freud e Schopenhauer. Como membro atuante da primeira geração de psicanalistas, foi também o primeiro a destacar a importancia do pensamento filosófico de Nietzsche para compreender pontos cruciais da teoria do inconsciente emergente nas formulações iniciais de Freud.

Em 1913, Rank escreveu com Hans Sachs, “A importância da psicanálise para as Ciências do Espírito”. No capítulo dedicado a “Filosofia, ética e direito”, afirmaram que os sistemas filosoficos oferecem o material cognitivo para pensarmos a posição do humano em sua relação com o mundo exterior e o Universo. Destacaram a importância de separar a filosofia [sistemas] da personalidade dos filósofos, arquitetos dos sistemas.

Schopenhauer foi apresentado como tipo de pensador analítico onde a pulsão epistemofílica é investida no prazer dos processos de pensamento em si mesmo. O ato de criação filosófica é identificado no ato de criação artística. A Filosofia em sua sistematização histórica é apreendida como obra de arte e, os filósofos, poetas.

Bibliografia:

ASSOUN, Paul-Laurent Freud, a filosofia e os filósofos. tradução: Hilton Japiassu. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978.

ASSOUN, P.L. Freud & Nietzsche. Tradução Maria Lucia Pereira. São Paulo: Brasiliense, 1989

BRUM, José Thomaz O pessimismo e suas vontades: Schopenhauer e Nietzsche. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

FREUD, Sigmund Obras Completas em 20 volumes. Tradução Paulo Cesar Souza. São Paulo: Companhia das Letras.

FONSECA, Eduardo Psiquismo e vida: sobre a noção de Trieb nas obras de Freud, Schopenhauer e Nietzsche. Curitiba:UFPR, 2012.

FONSECA, Eduardo  Uma estreita passagem: O conceito de corpo nas obras de Schopenhauer e Freud. Curitiba:UFPR, 2016.

PASTORE, Jassanan O Trágico: Schopenhauer e Freud. São Paulo: Primavera Editorial, 2015.

LACAN, Jacques O Seminario 7 A ética da psicanálise. versão brasileira de Antonio Quinet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.

MANN, Thomas Pensadores Modernos: Freud, Nietzsche, Wagner e Schopenhauer. Tradução Marcio Suzuki. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.

NIETZSCHE, Friedrich Schopenhauer como educador. Tradução Claudemir Luis Araldi. São Paulo: Martins Fontes, 2020.

ROSSET, Clément La Filosofia Trágica. Traducción Ariel Dilon. Buenos Aires: El cuenco de plata, 2010.

ROUDINESCO, Elisabeth Sigmund Freud – na sua época e em nosso tempo. Tradução André Telles. Rio de Janeiro: Zahar, 2016.

RANK, Otto SACHS, Hans Psychanalyse et Sciences humaines. traduit: Daniel Guérineau. Bibliothèque de Psychanalyse. Press Universitaires de France, 1980.

SAFRANSKI, Rüdiger Schopenhauer e os anos mais selvagens da filosofia. Tradução Willian Lagos. São Paulo: Geração Editorial, 2011.

SAFRANSKI, R. Nietzsche – biografia de uma tragédia. Tradução Lya Luft. São Paulo: Geração Editorial, 2001.

Os amigos: Dali e Lacan

Em 1926, o jovem catalão Salvador Dali, expulso da Escola de Belas Artes de Madri,  decidiu visitar Paris e Bruxelas em busca de interlocutores à altura de sua genialidade. O cenário artístico da capital francesa fora dinamitado pela revolução surrealista e, Dali encontrou nos militantes da causa surrealista a companhia tão desejada.

Salvador Dalí

De volta à Espanha, publicou o Manifesto Amarelo e, com Luis Buñuel, participou do processo de criação dos filmes Um Cão Andaluz e A Idade do Ouro. Retornou a Paris em 1929 e se apaixonou por Gala Éluard, esposa do poeta Paul Éluard. Formaram um triângulo amoroso com consequências decisivas para a criação artística de ambos.

No ensaio Novas Considerações Gerais Sobre o Mecanismo do Fenômeno Paranóico do Ponto de Vista Surrealista, publicado em 1933, Dalí descreveu os pressupostos do seu método de trabalho, nomeado paranoico-crítico: “o mecanismo paranoico, na perspectiva surrealista em que nos colocamos, é a prova do valor dialético desse princípio de verificação pelo qual passa praticamente no domínio tangível da ação o próprio elemento do delírio; é o penhor da vitória sensacional da atividade surrealista no campo do automatismo e do sonho”.

Jacques Lacan

Neste ensaio, encontra-se uma referência explícita à tese de doutoramento do jovem psiquiatra Jacques Lacan: Da Psicose Paranóica em suas Relações com a Personalidade. A tese do amigo Lacan serviu como ponto de sustentação das posições assumidas por Dalí: a defesa da irracionalidade concreta que emerge da atividade imaginativa, característica fundante do fenômeno paranoico.

“É da tese do Lacan que devemos fazer, pela primeira vez, uma ideia homogênea e total do fenômeno paranoico, fora das misérias mecanicistas em que se atola a psiquiatria corrente. A obra de Lacan dá conta perfeitamente da hiper acuidade objetiva e comunicável do fenômeno paranoico, graças à qual o delírio adquire esse caráter tangível e impossível de contradizer que o situa entre os próprios antípodas do automatismo e do sonho.”

Lacan aproximou-se dos surrealistas e encontrou em Dali um amigo com quem compartilhou a crítica da psiquiatria vigente e na estética do artista construiu seu estilo na leitura inicial dos escritos de Sigmund Freud. Fez assim sua entrada no campo da psicanálise, revolucionando a prática clínica e a interpretação de conceitos fundamentais da psicanálise. Na década de 1950, assumiu o protagonismo do movimento nomeado ‘retorno a Freud’, rompendo os padrões de leitura de Freud dominante e inscrevendo na história da psicanálise o mesmo que Dali fez na história da arte.

O encontro de Lacan com Dali nas noitadas de vinho nos cafés parisienses no início da década de 30, fez do jovem psiquiatra marcado pela questão da paranoia no tratamento da psicose um marco inaugural do que a história veio a conhecer como a Escola de Lacan: lugar de transmissão e da formação de psicanalistas comprometidos com a ética do bem dizer o desejo.

in: Jornal Cidade – Rio Claro/SP – 27/maio/2022 – Projeto Conhecimento para Todos