Décalcomanie (1966) René Magritte

Curso de História da Filosofia – Modulo 3 – Nietzsche, leitor de Schopenhauer

Curso de História da Filosofia

Modulo 3 – Nietzsche, leitor de Schopenhauer

1º semestre /2020

Cronograma:

05 e 19/fevereiro; 04 e 18/março;

01, 15 e 29/abril; 13 e 27/maio; 10 e 24/junho

4ª feira – 19h as 21h – quinzenal

Local: Edifício Primus Center

Av. Independência, 350 – sala 43 – Piracicaba – SP

Vagas limitadas: 20

Pagamento: R$ 70,00 a cada encontro

* Módulo 1 e 2 não é pré-requisito para Módulo 3

A inscrição será efetuada com o pagamento antecipado da 1º aula

informações: mmariguela@gmail.com

“Nietzsche foi, sobretudo, um grande crítico da cultura de seu tempo, um prosador e ensaísta europeu do mais alto gabarito, saído da escola de Schopenhauer … de quem herdou a proposição: a vida, intuída puramente apenas como representação ou reproduzida pela arte, é um espetáculo significativo de grande valor, o valor dos valores. A vida só pode ser justificada como fenômeno estético. A vida é arte e aparência: uma sabedoria trágico-irônica que põe limites à ciência, ao niilismo e ao otimismo dos racionalistas reformadores do mundo e do humano. Nomeou essa sabedoria trágica que abençoa a vida em toda a sua falsidade, dureza e crueldade com o nome de Dionísio”.  Thomas Mann

Enunciado:

Numa manhã ensolarada de outubro em 1865, Friedrich Nietzsche caminhava pelas ruas de Leipzig; passou por uma livraria que exibia na vitrine os dois volumes de O Mundo como Vontade e Representação, escrito por Arthur Schopenhauer. “Um demônio soprou no meu ouvido: ‘entre e adquira esse livro; ele irá transformar sua vida’”, assim relatou o encontro numa carta ao amigo Erwin Rohde. Passou o dia e a noite lendo com voracidade. O efeito imediato deste encontro foi a escrita do livro inaugural O Nascimento da Tragédia, publicado em 1871.

Roberto Machado reconstruiu a gênese da escrita, publicação e recepção nos círculos acadêmicos, destacando dois objetivos principais do Nascimento da Tragédia: crítica da racionalidade conceitual instaurada na filosofia por Sócrates e Platão; apresentar a arte trágica, expressão das pulsões dionisíaca e apolínea, como alternativa a essa racionalidade.

A antinomia entre arte trágica e metafísica transcendental é o ponto de partida da filosofia nietzschiana. Deste antagonismo entre o conceito [logos] e o canto, a música na tragédia grega, demonstrou que a negação do trágico na moral socrática-platônico ocorreu pela foraclusão da música: a tragédia morreu quando a música foi expulsa do teatro e a palavra [logos] tornou-se fábrica de conceitos. “O conceito é uma palavra enfraquecida pela distância que se encontra da expressividade musical do trágico e o canto é o que eleva a palavra ao ápice de sua musicalidade, fazendo-a reencontrar a sua força primária”

Nietzsche encontrou neste antagonismo um modo peculiar de interrogar seu tempo presente: a modernidade da qual se orgulhavam os pensadores do século 19 é a concretização da moral socrática-platônica e o progresso científico-tecnológico, decantado em prosa e versos construiu uma moral higienista. O discurso religioso, suplantado pelo discurso científico deslocou a vontade de verdade: do logos divino (Demiurgo de Platão e Deus do cristão) ao logos empírico-formal advindo da modernidade iluminista.

“A obra germinal da filosofia nietzschiana apresenta três ideias principais, às quais as outras estão subordinadas. A 1ª é traçar a gênese, composição e finalidade da arte trágica grega; a 2ª é demonstrar que a tragédia sucumbiu por suicídio; 3ª esforço em encontrar o renascimento da tragédia [da concepção trágica do mundo] em algumas manifestações culturais da modernidade: por um lado, a música de Wagner; por outro, a filosofia de Schopenhauer”

É na 1ª etapa do trabalho, traçar a genealogia da arte trágica, que encontraremos os efeitos da leitura que Nietzsche realizou do Mundo como Vontade e Representação de Schopenhauer. A 3ª etapa podemos encontrar na Consideração Extemporânea – Schopenhauer como educador, publicada em 1874.

Bibliografia Básica:

NIETZSCHE, Friedrich O Nascimento da Tragédia ou Helenismo e Pessimismo. Tradução: J.Guinsburg. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

NIETZSCHE, Friedrich Consideração Extemporânea – Schopenhauer como educador. Coleção Os Pensadores. Tradução: Rubens Torres Filho. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

MANN, Thomas “A filosofia de Nietzsche à luz de nossa experiencia” in: Pensadores Modernos. Tradução: Márcio Suzuki. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.

MACHADO, Roberto Nietzsche e a polêmica sobre O Nascimento da Tragédia. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

MARTON, Scarlett “Por que sou um extemporâneo” in: Extravagancias: ensaios sobre a filosofia de Nietzsche. São Paulo: Discurso Editorial, 2000.

MARTON, Scarlett “O procedimento genealógico: vida e valor” in: Nietzsche: das forças cósmicas aos valores humanos. São Paulo: Brasiliense, 1990.

DIAS, Rosa Nietzsche, vida como obra de arte. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

Imagem:

Décalcomanie (1966)
René Magritte