Ministrado por:
Marcio Mariguela
Psicanalista, graduação e especialização em filosofia, doutor em psicologia da educação pela Unicamp.
Marta Togni Ferreira
Psicanalista, graduação em ciências médicas pela Unicamp com especialização em psiquiatria infantil, membro fundadora da Tykhé -Associação de Psicanálise de Campinas.
Enunciado:
O trabalho clínico com crianças convoca a reinscrever a ética da psicanálise em sua função com um sujeito na condição de criança.
O objeto da psicanálise não é a criança, é o sujeito. Num aforismo, Jacques Lacan estabeleceu que um significante é o que representa um sujeito para outro significante. O sujeito que faz essa aparição fulgurante entre dois significantes demanda reconhecimento. O sintoma se apresenta como demanda de reconhecimento daquilo que não encontrou seu lugar na relação da criança ao Outro.
A qualificação como criança não pode se introduzir na prática psicanalítica como uma identidade que viria a tamponar o vazio do sujeito. Isso é fonte de desvios tanto na prática clínica particular quanto na abordagem das instituições voltadas ao cuidado das crianças.
A criança como identidade faz agir sobre a psicanálise todos os ideais sociais ligados a ela: ideais médicos, desenvolvimentistas, pedagógicos e a consequente marcação e segregação dos diferentes.
A prática psicanalítica com crianças abordada como um dispositivo, permite sustentar relações entre diferenças: relações entre o sujeito e o sentido de seu sintoma, entre a criança e seus pais, entre os pais e o analista. Estabelecer relações entre diferenças não se dá apenas por gestos amistosos ou de boas intenções, é necessário se valer de dispositivos que promovam ligações, que promovam a emergência de um sujeito.
O brincar da criança é o fundamento dessa clínica, o organizador do dispositivo. Não se trata de uma técnica aplicada a posteriori, partindo de uma teoria estabelecida, trata-se de que a própria constituição do sujeito está condicionada pelo brincar. Ao brincar, a criança introduz os significantes que demarcam o lugar ao qual se encontra fixada e abre espaço para que outros significantes se coloquem, abrindo um novo campo de significação.
Não se pode confundir a alienação constitutiva aos significantes de sua história familiar e de seu lugar social com a fixação identitária em significantes que a paralisam e reduzem seu universo simbólico.
O objetivo deste módulo 2 é apresentar os elementos constitutivos da clínica psicanalítica com crianças a partir da função do brincar, do lugar e função dos pais no tratamento, dos diferentes lugares que a criança pode ocupar na família, a incidência desses lugares nos sintomas e no tratamento, a função do pagamento e, não menos importante, as incidências da prática com crianças na formação dos analistas e na transmissão da psicanálise.
Estão convidados todos aqueles que se dispõe a escutar e a ser atravessados pelas questões que a criança, em sua presença, apresenta.
Temas:
- Os dispositivos da clínica com crianças [Leitura Complementar]
- A clínica da invenção e criação: o brincar e o significante
- A função dos pais na clínica com crianças: entrevistas preliminares
- O lugar da criança na família
- A neurose infantil e o infantil da neurose
- Fim e finalidade da análise de uma criança
- Pagar para brincar: o que se paga na análise de uma criança?
- A psicanálise com crianças e a questão da transmissão em psicanálise
Cronograma:
04 e 25/março; 01 e 29/abril; 13 e 27/maio; 17 e 24/junho.
Local: Rua Saldanha Marinho, 792 – Piracicaba – SP
Sábados: das 10h às 12h
Vagas limitadas: 30 – Certificado de Participação.
Contato e Inscrições: tykhepsicanalise@gmail.com
Formas de pagamento:
1 – R$ 645,00, em 3 x R$ 215,00
Na inscrição + 2 cheques pré-datados (09/04 e 07/05) entregues em 04/03.
2 – R$ 500,00 a vista – no ato da inscrição.
Obs.: a vaga será garantida com o envio do comprovante de depósito bancário até 3 dias depois de solicitar a inscrição e receber instruções para pagamento
Referências bibliográficas:
FREUD, Sigmund “ O sentido dos sintomas”, “O desenvolvimento da libido e aas organizações sexuais”, “A terapia analítica” in: Conferencias Introdutórias à Psicanálise – 3ª parte: Teoria Geral das Neuroses. Tradução: Sérgio Tellaroli. Obras Completas, volume 13. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
FREUD, Sigmund “A sexualidade infantil” in: Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. Tradução: Paulo César de Souza. Obras Completas, volume 6. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
FREUD, Sigmund “O início do tratamento” in: Artigos sobre Técnica. Tradução: Paulo César de Souza. Obras Completas, volume 10. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
AGAMBEN, Giorgio “O que é um dispositivo” in: Outra Travessia – Revista de Literatura nº 5 (A exceção e o excesso). Programa de Pós-graduação em Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina, 2005
FOUCAULT, Michel “ Dispositivos disciplinares e poder familiar” Aula de 05/12/1973 in: O poder psiquiátrico. Curso no Collège de France. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
LACAN, Jacques “Os complexos familiares na formação do indivíduo” e “Nota sobre a criança” in: Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
JERUSALINSKY, Alfredo & FENDRIK, Silvia (organizadores). “Questões da Infância” in: O Livro negro da psicopatologia contemporânea. São Paulo: Via Lettera (2ª edição), 2011.
HUIZINGA, Johann, Homo Ludens, o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Editora Perspectiva S.A, 1996.
RODULFO, Ricardo, O brincar como significante-um estudo psicanalítico da constituição precoce. Porto Alegre: Editora Artes Médicas, 1990.
MANNONI, Maud, A primeira entrevista em psicanálise. Rio de Janeiro: Campus Ltda., 1981
MANNONI, Maud A criança, sua “doença e os outros. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1987