Psicanálise & Arquitetura

Psicanálise e Arquitetura

No terreno da psicanalise, habitantes de outros lugares discursivos são sempre bem-vindos. Desde os primórdios encontros, na sala de jantar de Sigmund Freud em Viena, no início do século 20 até os dias atuais, diversos e múltiplos profissionais, pesquisadores, escritores, artistas em geral, recorrem à psicanálise como interlocução para seus respectivos trabalhos.Os campos de investigação da psicanálise está para além da atividade clínica, propriamente dita. No Dicionário Enciclopédico de Psicanálise, Pierre Kaufmann cartografou a relação da psicanálise com outras atividades com quem faz fronteiras: científica, filosófica, religiosa, artística, etc.

Para o autor, a abordagem psicanalítica da arquitetura diz respeito à sua função social: “Religioso, municipal ou privada, a edificação aparece, de fato, como uma obra coletiva, em sua origem e destinação. Tal função emergiu no momento em que Freud ultrapassou a espaço de seu consultório para os fenômenos sociais”.

Kaufmann percorreu os escritos de Freud para demonstrar a relação entre psicanálise & arquitetura. Iniciou destacando a função simbólica da casa nos sonhos e a construção do espaço na criação da cultura. Apaixonado viajante, Freud comprazia em visitar templos, castelos, ruínas e praças por todo território europeu. Amava igualmente a natureza e praticante do alpinismo. Encontrou também na natureza a beleza arquitetônica.

Conceitos fundamentais da arquitetura foram utilizados por Freud para expressar sua teoria do inconsciente, pulsão sexual, desejo, sexualidade infantil e do aparelho psíquico. Desde 1895, construiu a arquitetura do aparelho psíquico no campo virtual da linguagem. Um aparelho que tem funcionalidade em seu espaçamento. Aparelho que é todo corporal embora não localizável num órgão específico, o cérebro.

Freud foi um arquiteto no sentido literal: profissional da arte de construir que idealiza, planeja, especifica materiais e elabora os desenhos de um espaço ou obra arquitetônica. A estrutura do aparelho psíquico é composta por 3 lugares: Eu, Supereu e o Isso, pronome neutro para designar a coisa inconsciente do desejo e do sintoma.

Nas Conferências Introdutórias sobre Psicanálise, ministradas por Freud na 1ª Guerra Mundial, alinhou a arquitetura do aparelho psíquico às revoluções de Copérnico e Darwin:

“Ao enfatizar o inconsciente (Isso) na vida psíquica, conjuramos a maior parte dos maus espíritos da crítica contrário à psicanálise. Não se surpreendam por isso, e não suponham, que a resistência contra nós se baseia tão-somente na compreensível dificuldade que constitui o inconsciente ou na relativa inacessibilidade das experiências que proporcionam provas do mesmo. A origem dessa resistência, segundo penso, situa-se em algo mais profundo. No transcorrer dos séculos, o ingênuo amor-próprio dos homens teve de submeter-se a dois grandes golpes desferidos pela ciência. O 1º foi quando souberam que a nossa Terra não era o centro do universo, mas o diminuto fragmento de um sistema cósmico de uma vastidão que mal se pode imaginar. O 2º foi dado quando a investigação biológica destruiu o lugar supostamente privilegiado do homem na criação, e provou sua descendência do reino animal e sua inextirpável natureza animal. Mas a megalomania humana recebeu o 3º golpe, o mais violento, promovido pela psicanálise, que demonstrou que o ego (Eu) não é senhor nem mesmo em sua própria casa”.

Fonte:
Revista Arraso / Design & Decor
Ano 8; nº 68; 2º semestre/2016
Ao Gato Preto Editora – Piracicaba/SP
Ilustração: Maria Luziano
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No terreno da psicanalise, habitantes de outros lugares discursivos são sempre bem-vindos. Desde os primórdios encontros, na sala de jantar de Sigmund Freud em Viena, no início do século 20 até os dias atuais, diversos e múltiplos profissionais, pesquisadores, escritores, artistas em geral, recorrem à psicanálise como interlocução para seus respectivos trabalhos.
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