GRUPO DE ESTUDOS EM FREUD - 2019 O laço social na perspectiva da psicanálise atualidade do ensaio Psicologia das Massas e Análise do Eu (1921)

GRUPO DE ESTUDOS EM FREUD – 2019

O laço social na perspectiva da psicanálise

atualidade do ensaio Psicologia das Massas e Análise do Eu (1921)

Coordenação: Márcio Mariguela

Cronograma:

13 e 27/março; 10 e 24/abril; 08 e 22/maio; 05 e 19/junho

4ª feira das 19h às 21h

Pagamento: R$ 70,00 a cada encontro

Local: Edifício Primus Center

Av. Independência, 350 – sala 43

Vagas limitadas: 15

Inscrição: mmariguela@gmail.com

“Há muito me impressiono com fenômenos que as teorias sociológicas tendem a deixar à sombra ou a ocultar deliberadamente: Por que os indivíduos e os grupos sociais funcionam a partir da crença e tem necessidade de viver na ilusão, no disfarce e no erro? Por que o social é antes de tudo o reino da certeza e do esquecimento da verdade? Indivíduos que, isoladamente, são às vezes capazes de pensamento livre e rigoroso, por que razões, quando em grupo, identificam-se ao mestre e a seus ideais e sustentam as ações mais absurdas e as menos suscetíveis de favorecer realização de seus desejos? Em síntese, por que a obediência é tão fácil, a servidão voluntária tão frequente, enquanto a revolta se revela tão difícil e o desejo de autonomia tão frágil?”

Eugène Enriquez – Da Horda ao Estado – ensaio de psicanálise do laço social, 1983

Enunciado:

 

Desde longe, viemos num trabalho investigativo sobre a gênese da pulsão sexual: das Cartas ao amigo Fliess (1895) até a cartografia do aparelho psíquico no livro O Eu e o Isso, publicado em 1923. Freud nunca renunciou a hipótese fundadora da clínica e da teoria psicanalítica: a etiologia sexual nos sintomas de sofrimentos neuróticos e psicóticos.

 

Quais enlaçamentos a pulsão sexual cria na formação da massa, multidão, aglomeração, agrupamento? Para avançar em suas investigações sobre o laço social, Freud reinscreveu sua premissa básica: a ontogênese atualiza a filogênese; o indivíduo atualiza o ser de sua espécie, ser humano.

 

No prefácio à 3ª edição (1914) dos Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, escreveu: “A disposição filogenética se faz notar por trás do evento ontogenético. No fundo, porém, a disposição é justamente o precipitado de uma vivencia mais antiga da espécie, vivencia à qual vem se acrescentar, como soma dos fatores acidentais, a mais nova vivência do indivíduo”.

 

Psicologia das Massas e Análise do Eu, escrito nos primeiros meses de 1921, é um ensaio que compõe a série de outros dedicados ao que se convencionou chamar de ciências da cultura ou mesmo, ciências do espírito. O ensaio é profético: anunciou o que estava por vir com ascensão do nazi-fascismo.

 

Admitindo que a psicologia de massas “trata o ser individual como membro de uma tribo, um povo, uma casta, uma classe, uma instituição, ou como parte de uma aglomeração que se organiza como massa em determinado momento, para certo fim”; Freud investigou os fenômenos que surgem em condições de ruptura de uma laço natural de identificação: o instinto social, de rebanho, a mente do grupo. A hipótese da gênese do instinto de rebanho na formação da psique da massa é fundadora de certa perspectiva para interpretar o laço social.

 

Freud, artífice de bela retórica, lança sua hipótese antes de constatar o longo trabalho de pesquisa que haveria pela frente: desde a psicanálise, “o instinto de rebanho (social) não é primário e nem indivisível; e os primórdios da sua formação podem ser encontrados num círculo mais estreito como o da família”

 

“A psicologia das massas, embora se ache apenas no início, compreende uma vasta gama de problemas e coloca para o pesquisador incontáveis tarefas, que ainda não foram sequer diferenciadas”. A primeira tarefa de Freud foi estabelecer “três perguntas: 1) o que é uma massa; 2) de que maneira adquire ela a capacidade de influir tão decisivamente na vida psíquica do indivíduo, e 3) em que consiste a modificação psíquica que ela impõe ao indivíduo?”

 

De minha parte, tomo parte nesta tarefa, e terei como bússola, o percurso que Eugène Enriquez fez (1983) na série de ensaios de Freud sobre o laço social e, como interlocução filosófica, o ensaio de Étienne de La Boétie, Discurso da servidão voluntária (1577).

 

 

Bibliografia Básica:

 

FREUD, Sigmund “Psicologia das Massas e Análise” (1921) do Eu. In: Obras Completas, volume 15. Tradução Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2011

_________ “A moral sexual cultural e o nervosismo moderno” (1908) In: Obras Completas, volume 8. Tradução Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2015

_________ “Totem Tabu [algumas concordâncias entre a vida psíquica dos homens primitivos e dos neuróticos -1912-1913]” In: Obras Completas, volume 11. Tradução Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2012

 

La BOÈTIE, Étienne Discurso da Servidão Voluntária (1577). Tradução Gabriel Perissé, São Paulo: Editora Nós, 2016.

 

ENRIQUEZ, Eugène Da horda ao Estado: psicanálise do vínculo social. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.