Encontro com a História da Sexualidade: Homenagem a Michel Foucault

30/novembro/2019

9h às 17h

local: auditório 2 – Antonio’s Palace Hotel

Av. Independência 2805, Piracicaba/SP

vagas limitadas: 100

inscrição antecipada até 20 de novembro

email: historiasexualidade@gmail.com

R$ 50,00 para profissionais (pagamento no dia do evento)

gratuito para estudantes (apresentar comprovação)

Mesa 1 – 9h às 12h

volume 1 – A vontade de saber

Anderson Santos

psicólogo e psicanalista, cursando Especialização em Saúde Mental, Imigração e Interculturalidade (Unifesp); membro do Coletivo Psicanálise na Praça Roosevelt/São Paulo.

volume 2 – O uso dos prazeres

Marta Togni Ferreira

médica psiquiatra, psicanalista, associada da Tykhe – Associação de Psicanálise de Campinas

Mesa 2 – 14h às 17h

volume 3 – O cuidado de si

Nilton César Arthur

mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, membro do Grupo de Pesquisa Michel Foucault (PUC/SP), docente na área de filosofia na UNIMEP/Piracicaba.

volume 4 – As confissões da carne

Márcio Mariguela

psicanalista com formação em Filosofia, mestre e doutor em educação pela UNICAMP.

Enunciado:

Em 1994, organizei homenagem a Michel Foucault na Universidade Metodista de Piracicaba/SP. Convidei alguns pesquisadores da obra histórico-filosófica do pensador francês, falecido em 1984. Os trabalhos apresentados foram publicados no livro intitulado Foucault e a destruição das evidências (Editora Unimep).

Em epígrafe, o sonho/desejo de Foucault: “sonho com o intelectual destruidor das evidências e das universalidades, que localiza nas inércias do presente os pontos fracos, as brechas, as linhas de força; que sem cessar se desloca, não sabe exatamente onde estará ou o que pensará amanhã, por estar atento, [instalado, diria Nietzsche] ao presente”

Agora, em 2019, retorno a Foucault para homenagear a publicação na França, do escrito inédito interrompido pela morte: o volume 4 – As confissões da carne. 

Tal como naquele tempo, reinscrevo o sonho/desejo: o trabalhador intelectual que pratica a genealogia como procedimento de ofício, produz diagnóstico do presente. Instalado no presente, seu compromisso ético é com a produção de singularidades. Destruidor das universalidades para indicar as linhas de força na produção da diferença, princípio do singular.

O projeto de pesquisa genealógica sobre as técnicas de si, desde Antiguidade Greco-romana até o século IV da era cristã, ficou integrado com os volumes 1 A vontade de saber (1976); volume 2 O usos dos prazeres (1984) e volume 3 O cuidado de si. Depois de 35 anos de espera, podemos conhecer o conteúdo do volume 4 interditado por direito testamentário. Pouco antes de morrer, Foucault escreveu: quero a morte e não o sofrimento inútil; e, nenhum póstumo.

O herdeiro respeitou o desejo expresso e tudo que tínhamos disponível eram indicações, pistas, indícios da gênese da moral cristã; cartografada em minúcias pelo arqueologista. O rigor no uso da genealogia para investigar a distinção entre moral [erigida nos universais, para todos] e ética [afirmação de singularidade, um-a-um] é o mesmo que conhecíamos desde o plano inicial do projeto, publicado como volume 1.

O cartógrafo Foucault, como o nomeou seu amigo Gilles Deleuze, traçou a gênese da moral cristã nos arquivos que compõem os escritos dos primeiros pensadores do cristianismo, no conjunto das práticas do cuidado de si desde os helenos, do autogoverno, da autonomia. Com a emergência da carne como designativo do erótico sensual, o corpo humano foi reduzido a sede do mal, do falso e enganador. O demônio habita o corporal, sede das luxúrias.

No ensaio de 1986, dedicado a obra do pensamento de Foucault, Deleuze perguntou: “o que aconteceu durante o silêncio bastante longo que se seguiu a publicação da A Vontade de Saber? Talvez tenha percebido um certo equívoco ligado a esse livro: não estava ele preso nas relações de poder? Se o poder é constitutivo da verdade, como conceber um ‘poder da verdade’ que não seja mais verdade de poder, uma verdade decorrente das linhas transversais de resistência e não mais das linhas integrais de poder?”

Relançamos a pergunta: o que aconteceu no longo silêncio de 3 décadas que nos separam do volume 2 e 3 da História da Sexualidade? Neles as relações de poder foram identificadas nas tecnologias do cuidado de si, onde o sujeito se constituiu numa relação de si para consigo: “enkrateia, relação consigo como domínio, é um poder que se exerce sobre si mesmo dentro do poder que se exerce sobre os outros [quem pretende governar os outros deve antes governar a si próprio]”

As confissões da carne é o testemunho dos fundamentos que regem a moral cristã desde sua gênese histórica nos séculos III e IV até os dias de hoje; vivemos num tempo presente em que a vontade de Deus é princípio para fundamentar o poder republicano democrático. E, em nome desta vontade, todos devem submeter-se a moral cristã. Os que não aceitam a submissão a este código de valores normativos universais, são excluídos violentamente em práticas de apagamento, eliminação: pecador ou doente mental, anormal, os diferentes da moral cristã continuam sendo condenados ao fogo dos infernos, em vida.

saiba mais: https://marciomariguela.com.br/as-confissoes-da-carne-historia-de-um-livro/