Módulo 1: Nietzsche, Freud & Marx: os contemporâneos
Coordenação: Márcio Mariguela
Cronograma:
16 e 30/março; 13 e 27/abril; 11 e 25/maio; 08 e 29/junho
Sábados: das 10h às 12h
Pagamento: R$ 70,00 a cada encontro
Local: Edifício Primus Center
Av. Independência, 350 – sala 43
Vagas limitadas: 15
Inscrição: mmariguela@gmail.com
Enunciado:
No verão de 1964, os célebres colóquios realizados na abadia cisterciense de Royaumont, ao norte de Paris, rendeu homenagem a Friedrich Nietzsche e sua obra. O programa foi dividido em três partes: “O Homem e o Mundo em Nietzsche”, “Confrontações” e “Experiências e Conceitos”. Os criativos leitores dos escritos de Nietzsche, ali reunidos, traçaram as coordenadas geográficas no vasto campo que compõe a produção filosófica do homem da Basiléia.
Michel Foucault, tomou a palavra na 2ª parte para confrontar Nietzsche, Freud e Marx. Estabeleceu o pressuposto: a tríade de pensadores abriram, cada um a seu modo, a possibilidade de uma nova hermenêutica. Cada um deles inverteram o primado do signo sobre a interpretação. As técnicas de interpretação instauradas por estes “mestres da suspeita”, abriram a possibilidade de um sem fim, sem ancoradouro, um ponto em que a interpretação encontra-se consigo mesma, “um inacabado da interpretação”.
Há dois tipos de suspeita: a de que a linguagem não diz exatamente o que diz – o que os gregos chamavam alegoria; e outra suspeita, de que a linguagem não se esgota no verbal.
“Essas duas suspeitas que já estão presentes desde os gregos e ainda nos são contemporâneas. Desde o século XIX, estamos a repetir que os gestos mudos, as doenças, qualquer tumulto à nossa volta também pode falar; e mais do que nunca, estamos à escuta de toda essa linguagem possível, tentando compreender por baixo das palavras um discurso que seria mais essencial”.
Foucault lançou a tese: “cada cultura, cada formação cultural na civilização ocidental, teve (tem) seu sistema de interpretação, suas técnicas, métodos e maneira própria de supor que a linguagem quer dizer outra coisa do que ela diz, e de supor que há linguagem para além da própria linguagem”.
A conferência de 1964 contém, em germe, outro momento (1971) em que Foucault falou publicamente de Nietzsche, a genealogia e a história: “o genealogista tem necessidade da história para conjurar a ilusão da origem, um pouco como o bom filósofo tem necessidade do médico para conjurar a sombra da alma. É preciso saber reconhecer os acontecimentos da história, seus abalos, suas surpresas, as vacilantes vitorias, as derrotas mal digeridas que dão conta dos começos, dos atavismos e das hereditariedades”. Os acontecimentos tem gênese e não começo. A recusa da origem é o pressuposto ético do trabalho genealógico empreendido por Nietzsche, Freud e, em menor grau, em Marx.
Vamos seguir os traçados de Foucault sobre Nietzsche nos dois textos citados, suas posições sobre Freud e a psicanálise. No que diz respeito a Marx, Foucault reconheceu que o inventor do materialismo histórico não foi tão longe quanto Nietzsche e Freud. Sua concepção binária e jurídica de poder teria limitado sua aproximação da “região absolutamente perigosa, na qual a interpretação desaparece como interpretação, levando ao risco supremo de desaparecimento do próprio intérprete. A existência sempre aproximada do ponto absoluto da interpretação seria, simultaneamente, a aproximação de um ponto de ruptura”.
Bibliografia Básica:
FOUCAULT, Michel. “Nietzsche, Freud, Marx” e “Nietzsche, a genealogia e a história” in: Ditos & Escritos II – Arqueologia das Ciências e História dos Sistemas de Pensamento. Tradução: Elisa Monteiro. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.
NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos Ídolos ou Como se filosofa com o martelo. Tradução: Paulo César Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
FREUD, Sigmund. “A dissecção da personalidade psíquica” e “Angustia e Instintos” in: Novas Conferências Introdutórias à Psicanalise, Obras Completas, volume 18. Tradução: Paulo Cesar de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
MARX, Karl. A Ideologia Alemã. Tradução José Carlos Bruni e Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Hucitec, 1993.