Curso de Extensão em Psicanálise

Curso de Extensão em Psicanálise

Freud, leitor de Nietzsche

Freud

Período:

16 e 30/08 – 20/09  –  04 e 25/10  –  29/11  –  13/12

19h30m as 21h30m

Local:

Clínica de Psicanálise

Rua Prudente de Moraes, 1314 – Bairro Alto – Piracicaba/SP.

Vagas limitadas: 15

Custo: R$ 210,00 (em 3 parcelas)

Inscrição: mmariguela@gmail.com

Coordenação:

Márcio Mariguela

Nietzsche

1. Objetivo

As aulas deste módulo de ensino e transmissão da psicanálise propõem uma interlocução entre pontos específicos da obra de Sigmund Freud e Friedrich Nietzsche:

  • em nota de rodapé no livro O Ego e o Id [das Ich und das Es], publicado em 1923, Freud destacou que usaria o pronome es para designar o inconsciente na segunda tópica do funcionamento do aparelho psíquico. Desse modo, manteria o mesmo sentido gramatical utilizado por Nietzsche para tudo o que é impessoal em nossa condição de animal falante.
  • nos aforismos: 8 “Virtudes Inconscientes”; 333 “O que significa conhecer”; 354 “Do gênio da espécie”, publicados em 1882 no livro A Gaia Ciência, Nietzsche utiliza o pronome es (pessoal do gênero neutro) para designar o inconsciente como tudo o que é impessoal em nós, aquilo que nos é mais estranho e por isso mesmo o mais familiar.

2- Justificativas

Diferentes autores elegeram a relação Freud-Nietzsche como tema de investigação. Paul-Laurent Assoun, por exemplo, comentou a estranha contemporaneidade entre Freud e Nietzsche, citando a ata da Sessão de 01 de Abril de 1908 da Sociedade Psicanalítica de Viena em que Freud afirmou não conhecer a obra de Nietzsche. Disse também que nunca conseguiu estudá-lo e não conseguia ir além de meia dúzia de páginas nas poucas tentativas de lê-lo. Assoun citou também duas outras ocasiões em que Freud disse ter recusado o grande prazer proporcionado pela leitura de Nietzsche e ter evitado, por muito tempo, o contato com sua escrita.

Michel Foucault também se interrogou sobre a estranha contemporaneidade entre Freud e Nietzsche. Na conferência de 1964, alinhou Nietzsche, Freud e Marx para analisar as rupturas que cada um, a seu modo, realizou na hermenêutica moderna: “No primeiro volume do Capital, textos como o A Genealogia da Moral e a A Interpretação dos Sonhos, situam-nos de novo diante de técnicas interpretativas. E o efeito do seu impacto, o gênero de ferida que estas obras produziram no pensamento ocidental, deve-se provavelmente ao fato de terem significado para nós o que o mesmo Marx qualificou de ‘hieroglíficos’. O que nos coloca numa posição incômoda, já que estas técnicas de interpretação nos dizem respeito, e que nós, como intérpretes, temos que nos interpretar a partir destas técnicas”.

Esta referência ao argumento de Foucault define também a perspectiva adotada para o desenvolvimento das aulas: Nietzsche ocupa a função autor na obra de Freud. Na literalidade é possível traçar – ou mesmo cartografar – um campo de investigação: o lugar do estranho, da outra cena, do impessoal para designar o inconsciente. Dele se ocupou Nietzsche e, como leitor de A Gaia Ciência, Freud deu ao inconsciente um novo estatuto: estabelecendo assim, uma ruptura e descontinuidade com a função que o mesmo ocupava na primeira tópica do aparelho psíquico: desde a Interpretação dos Sonhos em 1900 até o Mais-Além do Princípio do Prazer, publicado em1920.

3 – Bibliografia Básica:

FREUD, Sigmund”O Eu e o Id” In: Escritos sobre psicologia do inconsciente.

Volume III Coordenação geral da tradução Luiz Alberto Hanns. Rio de Janeiro: Imago, 2007.

FREUD, Sigmund”O Estranho” In: Coleção Standard das Obras Completas, vol. XVII, Rio de Janeiro: Imago, 1976.

FREUD, SigmundConferência XXIDissecção da personalidade psíquica”. In:Novas Conferências Introdutórias Sobre Psicanálise – Coleção Standard das Obras Completas, vol. XXII, Rio de Janeiro: Imago, 1994.

NIETZSCHE, Friedrich A Gaia Ciência. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

ASSOUN, Paul-LaurentFreud & Nietzsche: semelhanças e dessemelhanças. São Paulo: Brasiliense, 1989.

FOUCAULT, Michel”Nietzsche, Freud e Marx” In: Ditos & Escritos II – Arqueologia

das ciências e história dos sistemas de pensamento. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.

GAY, Peter Freud, uma vida para o nosso tempo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

LEFRANC, Jean Compreender Nietzsche. Petrópolis-RJ: Vozes, 2005.

MARIGUELA, M. “A função autor na instauração da discursividade” In: Psicanálise e Surrealismo: Lacan o passador de Politzer. Piracicaba: Jacintha Editores, 2007.

MARIGUELA, M. “Freud, Nietzshe y la genealogía de la civilización” In: Delito y Sociedad – Revista de Ciências Sociales – Año 18, nº 27. Argentina, 2009.

MARIGUELA, M. “Freud e Nietzsche: ontogênese e filogênese” In: Impulso – Revista de Ciências Sociais e Humanas, volume 12, nº 28, Piracicaba: Editora Unimep, 2001.

[artigos disponíveis em: www.marciomariguela.com.br/artigos/revistas ]